PCDF investiga repasse de verbas ao Hospital da Criança

 

Obra custou R$ 102 mi, mas policiais suspeitam que parte do recurso teria sido liberada pelo governo após influência externa

A Polícia Civil do Distrito Federal investiga se houve interferência externa no processo de liberação de recursos do Governo do DF para a construção do bloco 2 do Hospital da Criança José Alencar. A obra, inaugurada em julho deste ano, custou R$ 102 milhões aos cofres públicos. A informação consta do Inquérito nº 386/2018 da PCDF, conforme divulgado pelo jornalista Cláudio Humberto e confirmado pelo Metrópoles.

De acordo com a investigação que gerou a Operação (12:26), o chefe de gabinete da Casa Civil do DF, Guilherme Abreu, recebeu pelo menos duas ligações de uma mulher com pedidos para acelerar a autorização do uso das verbas para a edificação. A interlocutora não foi identificada, mas os policiais verificaram que o telefone utilizado era de uma linha funcional da Secretaria de Planejamento.

Segundo o inquérito, em uma das interceptações telefônicas obtidas com autorização judicial, a mulher diz que “está precisando da ajuda deles [da Casa Civil] sobre a publicação de um remanejamento orçamentário para ‘pagar a Deise do bloco 2′”. Pelas transcrições, Abreu ainda questiona se a medida deveria se dar por meio de decreto, mas a pessoa do outro lado da linha cobra agilidade.

Os investigadores identificaram, no Sistema de Consulta Pública de Processos (SICOP/GDF), que o processo da unidade hospitalar tem como responsável a União Nacional das Associações de Proteção à Maternidade à Infância e à Família (UNAPMIF). A entidade é vinculada à Organização Mundial da Família e, segundo o inquérito, é comandada por Deisi Noeli Weber Kusztra, “provavelmente a Deise” mencionada no diálogo grampeado.

No dia seguinte à primeira gravação (22/5), o chefe de gabinete recebeu um novo telefonema da mesma interlocutora. Ela solicita publicação “imediata” do processo, pois teria reunião com a beneficiária do recurso e tinha a intenção de entregar pessoalmente a ordem bancária. No inquérito da PCDF, é citado que “causa estranheza a urgência para realização do pagamento, fato que pode ser indicativo de pessoalidade do ato”.

Reprodução / PCDF

Reprodução / PCDF

Inquérito investiga interferências externas para liberação de verbas para o Hospital da Criança

Ainda de acordo com o documento a qual o Metrópoles teve acesso, pouco após a segunda ligação, o GDF publicou uma edição extra do Diário Oficial do DF com a abertura de crédito suplementar ao Fundo de Saúde do DF, “no valor de pouco mais de nove milhões de reais”, para a obra do Hospital da Criança.

O fundo já foi alvo de investigações no âmbito da Operação Drácon, que investiga favorecimento ilegal em troca de pagamento de dívidas com fornecedoras de serviços de UTI à rede pública.

PCDF investiga repasse de verbas ao Hospital da Criança

Inquérito nº 386/2018
A partir de uma série de diligências, como escutas telefônicas, campanas que flagraram encontros, análise de documentos e depoimentos colhidos, a Polícia Civil concluiu que há envolvimento de 10 pessoas no suposto esquema de tráfico de influência, advocacia administrativa, além de indícios de prática de corrupção.

De acordo com o processo que soma 195 páginas, “cada um em seu campo de atuação, em clara divisão de tarefas, praticou diversos atos visando beneficiar particulares perante a administração pública”. A peça segue salientando que o esquema se estrutura “em grupo central relativamente rígido para administração das atividades criminosas”.

Outro lado
Na terça-feira (7/8) – data de deflagração da Operação (12:26) –, mesmo sem ainda ter conhecimento da íntegra das investigações, o Governo do Distrito Federal emitiu nota para esclarecer pontos específicos divulgados até então pela Polícia Civil e pelo Ministério Público.

No documento, o governo negou as acusações feitas pelos investigadores, afirmando não ter havido prática de advocacia administrativa e tráfico de influência. Sobre outros pontos específicos da investigação, o governo preferiu não se pronunciar oficialmente sobre o caso.

Procurada, a assessoria de imprensa do Hospital da Criança José Alencar não atendeu as ligações da reportagem.

 

Fonte: Metrópoles

Foto: JP Rodrigues/Especial para o Metrópoles

 

 

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