Perdas com a greve dos caminhoneiros chegam a 50% em alguns setores do DF

 

Além da falta de produtos para bares, restaurantes e lanchonetes, estabelecimentos têm redução de clientes. Lojas lamentam queda nas vendas para Dia dos Namorados e Copa

Mesmo com a retomada da distribuição de combustíveis desde sábado, a greve dos caminhoneiros, que entra no oitavo dia hoje, continua a fazer estragos na economia da capital. Ela prejudica as vendas para o Dia dos Namorados e para a Copa do Mundo, que acontecem em junho. Alguns setores estimam perdas de até 50%. Hoje, os secretários de Desenvolvimento Econômico e o da Agricultura vão se reunir com o empresariado para avaliar os prejuízos e buscar soluções imediatas.

Só o Sindicato das Empresas Transportadoras e Revendedoras de GLP do DF (Sindvargas) calcula prejuízo de R$ 1,2 milhão com os bloqueios nas estradas, que impediram a revenda de botijões de gás aos consumidores. O presidente do Sindvargas-DF, Sérgio Costa, conta que são vendidos no DF 14 mil botijões residenciais por dia. Com o desabastecimento desde quarta-feira, 70 mil unidades deixaram de ser comercializadas. “Nesta segunda e terça-feira, vamos fazer o levantamento de perdas, mas já sabemos que o prejuízo é grande”, frisa.  No DF, o preço médio do botijão é de R$ 68, segundo a  Agência Nacional do Petróleo (ANP). A revendedora lucra R$ 16.

Presidente da Associação de Bares e Restaurantes do DF (Abrasel), Rodrigo Freire destaca a queda de 40% a 50% no movimento do setor. “Este fim de semana foi muito ruim. Ficamos numa situação delicada por conta da baixa no movimento. Esse impacto negativo pode causar o fechamento e a quebra de empresas, sendo que muitas já estavam no limite”, afirma. Há 10 mil bares, restaurantes e lanchonetes no DF.

Comprometimento

A Federação do Comércio (Fecomércio) diz que o mercado está paralisado.  “Havia um certo otimismo para o Dia dos Namorados e para a Copa do Mundo, mas esses dias (da paralisação) têm um impacto significativo na economia. Mesmo que se encerre, teremos semanas para atingir a normalidade. Com isso, reduziu a expectativa de lucro e negócios”, diz o presidente da entidade, Adelmir Santana.

O comércio registra falta de produtos, reclama o presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista), Edson de Castro. “A venda para o Dia dos Namorados e para a Copa do Mundo estão comprometidas. Muita coisa está parada nas estradas e nos portos”, observa. O prejuízo é de 20%. “São ao menos 10 dias para recuperação. Isso sem levar em conta que as pessoas estão gastando mais dinheiro com gasolina, o que impacta outros gastos”, conclui Edson. Na capital, há  30 mil lojas de rua e shoppings.

Presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados do DF (Sinpospetro-DF), Carlos Alves dos Santos garante que só será possível contabilizar os prejuízos após a normalização do serviço. “Não existe lucro. Na verdade, ainda não sabemos o tamanho do rombo. Os postos não estão conseguindo absorver a demanda”, garante, apesar da elevação dos preços nas bombas, que já eram altos antes dos bloqueios nas rodovias.

Professor de finanças do Ibmec, Marcos Melo confirma que a crise impactará nas vendas de todos os setores da economia. Mesmo com uma greve de poucos dias, explica Marcos, o impacto negativo é razoável. “Esse é mais um refreio na atividade econômica. Para o Dia dos Namorados, a expectativa de aumento das vendas já não estava boa. Nesta situação, o problema das vendas aumenta. As empresas vão vender menos, contratar menos ou demitir isso em todos os setores. Investimentos são postergados”, comenta.

Eventos cancelados

O cenário piora com  o cancelamento de grandes eventos na capital. Dois deles são a 34ª Feira do Livro de Brasília e a Campus Party. A feira do livro, que aconteceria de  1º a 10 de junho, está remarcada para 8 a 17 de junho, no Pátio Brasil Shopping. No caso da Campus Party, maior evento de tecnologia da capital, prevista para ser realizada entre 30 de maio e 3 de junho, ela deve ocorrer entre 27 de junho e 1º de julho, no estádio Mané Garrincha.

Mais de 5 mil pessoas estavam credenciadas na Campus Party Brasília, segundo a organização. “Toda a organização está unindo esforços para comunicar cada participante, em especial aqueles que se deslocam de outras regiões para o evento”, diz o comunicado da assessoria de comunicação do evento. A  Campus Party foi adiada “em função da retenção de equipamentos em rodovias federais em outras unidades da Federação e as dificuldades do tráfego aéreo nacional”, ainda segundo a nota.

Presidente da Câmara do Livro do Distrito Federal, Ivan Valério explica que vários livreiros não conseguiriam que os livros chegassem a tempo para a 34ª Feira do Livro de Brasília. “Fomos obrigados a fazer a mudança para garantir que o evento mantenha o brilho e não corra riscos desnecessários”, afirmou Valério. “O quanto antes será divulgada a nova programação”, completa o curador da feira, Maurício Melo Júnior. Entre os escritores confirmados estão, Maurício Almeida, Paulliny Gualberto Tort, Maria Valéria Rezende, Dad Squarisi, Henrique Rodrigues, Cristóvão Tezza e Pedro de Almeida.

Fique atento

Confira o que funciona e o que não funciona no DF:

» Água

A Caesb informou que não há previsão de falta de água e pediu que a população não faça estoques extras, mantendo o consumo racional. Quatro caminhões de sulfato de alumínio foram entregues ao órgão para o tratamento de esgoto.

O rodízio de racionamento continua vigente.

Educação

» Escolas públicas

O governador Rodrigo Rollemberg manteve a suspensão das aulas nas escolas públicas do Distrito Federal, o que ocorre desde sexta-feira. As aulas serão repostas em datas a serem marcadas.

» Escolas particulares

O posicionamento do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe/DF) também se manteve inalterado: cada escola deve avaliar a segurança da comunidade escolar e decidir se paralisa ou não as atividades, reforçando que, em caso de paralisação, é necessária a reposição.

» Universidade pública

A Universidade de Brasília (UnB) manteve as aulas, mas pediu aos professores “flexibilização” na folha de frequência e que não apliquem atividades avaliativas.

» Universidades particulares

O Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) mantiveram as aulas. O Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), o Centro Universitário UDF, e a Universidade Católica de Brasília (UCB) optaram por cancelar as aulas.

» Energia elétrica

O fornecimento não foi afetado. Veículos da CEB têm combustível para serviços emergenciais.

» Limpeza urbana

Assim como o transporte rodoviário, há estoque para que os serviços de limpeza funcionem hoje e amanhã. O SLU vai alternar os dias da coleta de lixo nas regiões em que o serviço hoje é diário. Só o Plano Piloto manterá o recolhimento todos os dias. A transferência de rejeito das áreas de transbordo do Gama, de Sobradinho e de Brazlândia está suspensa com o objetivo de diminuir o número de viagens ao aterro sanitário.

Saúde pública

» Hospitais

Com estoque de gás e alimentos para mais uma semana, os hospitais do DF mantêm apenas os serviços de urgência e emergência. Cirurgias eletivas e o programa Saúde da Família continuam suspensos. As unidades básicas de saúde estarão fechadas.

» Ambulâncias

As ambulâncias foram reabastecidas e rodam normalmente hoje.

Segurança pública

» Corpo de Bombeiros

Os veículos têm prioridade no abastecimento e possuem combustível para atender às emergências e demandas urgentes da população.

» Polícia Civil

As delegacias funcionam normalmente, assim como o telefone de emergência 190. Viaturas foram abastecidas.

» Polícia Militar

As viaturas foram reabastecidas e o atendimento das ocorrências está normalizado, assim como o de patrulhamento preventivo.

Transporte público

» Metrô-DF

Funciona com reforço de trens, podendo ter o serviço ampliado nos horários de pico, caso haja necessidade.

» Ônibus do DF

O transporte rodoviário funciona normalmente. Até o momento, os ônibus do DF têm combustível para rodar hoje e amanhã.

» Ônibus do Entorno

As empresas de transporte coletivo do Entorno do DF reduziram as operações ontem para garantir combustível para que as frotas possam rodar hoje. AG20 e a CT Expresso, que atendem Luziânia e Valparaíso, rodam com horários reduzidos. A Taguatur, que atende Santo Antônio do Descoberto e Águas Lindas, funciona hoje, mas pode reduzir as operações a depender da dificuldade de abastecimento. A União Transporte Brasília (UTB), que transporta passageiros de Águas Lindas, Cidade Ocidental e Valparaíso de Goiás, ainda estava com os serviços indefinidos. A Catedral, que atende o distrito do Jardim Ingá, é a única empresa que circula com a frota normal no Entorno Sul do Distrito Federal.

 

Fonte: Correio Braziliense

Foto: Agência Brasil/EBC

 

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