POLÍTICA DA SAFADEZA
Miguel Lucena*
O Distrito Federal padece de uma doença política chamada falta de lado. As misturas ocorrem sem o menor pudor. Um sujeito que se afirma de oposição negocia, sem corar, cargos no governo e encaminha alianças sem discutir uma só linha programática. Tudo se baseia em números, cifras e CNEs.
Antigamente, na época do bipartidarismo, conhecíamos os líderes do governo e da oposição nacionalmente e nos estados: Petrônio Portela e Ulysses Guimarães foram exemplos de políticos com posição definida.
No Distrito Federal, a política predominante é a de interesses pessoais. Todos se conhecem e negociam. Radicais de esquerda já foram vistos entrando escondidos em palácios nas épocas de Roriz e Arruda, e vice-versa.
Existem os profissionais que se lançam para movimentar dinheiro e adquirir bens, realizando leilões na praça. Há muitos, sem noção da própria realidade, que falam em milhões sem ter nem o dinheiro da passagem de volta para casa.
Há os que servem a qualquer um, basta pagar. Nunca se discute a posição dos candidatos, por isso a falta de sintonia entre a opinião média da população e os parlamentares que se elegem.
Conheço gente que se diz de oposição ao governo Rollemberg negociando cargos por baixo dos panos para fazer aliança com candidatos proporcionais da mais alta confiança do governador. Essa é uma forma de enganar o povo, apresentando-se como oposicionista, beneficiando-se do esquema de poder e ajudando a eleger os governistas, tudo com base em acertos fisiológicos.
As pessoas que vivem no meio político acham essa prática normal. Para mim, é safadeza pura.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista, escritor e colunista do Brasília In Foco News