Presidente do Instituto Hospital de Base celebra indicadores positivos
O diretor-presidente do Instituto Hospital de Base (IHBDF), Dr. Ismael Alexandrino Junior já tem motivos para celebrar os resultados. Formado em medicina pela Universidade Estadual de Pernambuco, especializado em Gestão da Saúde pela Fundação Getúlio Vargas, o ex-secretário adjunto de Saúde e ex-oficial-médico da Marinha do Brasil recebeu o Brasília In Foco News, para esta entrevista, onde informou os indicadores de produção do Instituto Hospital de Base: Aumento de 11,9% em relação ao mesmo período no Hospital de Base, com uma média de 1.122 internações/mês em 2018, contra 1.002 internações/mês em 2017; Aumento de 12% em 2018 (3.447 cirurgias) em comparação com 2017 (3.083 cirurgias), com 364 cirurgias a mais no período. O atendimento de urgência aumentou 24%. Foi de 123.104 em 2017 para 155.327 em 2018.
Brasília In Foco News – Como o senhor classifica o desempenho do Instituto Hospital de Base nesse ano que o senhor está à frente do comando da instituição?
Dr. Ismael – Esses dez meses de existência do instituto, fazendo uma análise bem realista e honesta, eu divido em duas etapas. Até o final do mês de abril e início do mês de maio. E depois disso até agora, final de outubro e início de novembro.
Porque isso? Nessa primeira etapa, o que nós imaginávamos que ia modificar? Ia modificar pessoas, insumos e equipamentos. Infraestrutura tão importante quanto, vindo a reboque. Só que até o final de abril pessoas não estavam sendo contratadas ainda, a justiça havia paralisado dois processos seletivos que faziam quase mil pessoas. Até final de abril o desempenho, do ponto de vista de produção, ele foi dentro do esperado, que era abaixo dos demais anos. Porque você não conseguia contratar, não tinha pessoas para aumentar a produção. O hospital por sua vez vinha na decrescente, perdendo pessoas, aposentando pessoas, além de pessoas serem transferidas para outro lugar e insumo precários.
No final de abril nós entramos em um outro momento do instituto. Este sim, do ponto de vista de produção, foi muito alavancado. Do ponto de vista de qualidade também. Para fazer uma análise honesta e realista desses dez primeiros meses, é importante fazer essa distinção de momentos.
Do ponto geral, considerando os dez meses, mesmo com esse primeiro momento prejudicado, e segundo momento muito eficiente, do ponto geral nós estamos bem melhor já do ponto de vista de entrega de resultados, se comparado a anos anteriores.
BIFN – Quais os principais problemas enfrentados na administração hospitalar, principalmente do Instituto Hospital de Base?
Dr. Ismael – Os principais problemas da gestão, gestão nós fazemos com pessoas. E gerir pessoas, mudar modelo mental das pessoas não é fácil. Mudar regime jurídico é muito simples, mudar modelo de gestão é mais complexo. Mas o que está entre essas duas coisas é mudar o modelo mental. Então, a grande dificuldade, o grande desafio é mudar a forma como as pessoas pensar. Entrou um novo modelo jurídico, entrou um novo modelo de gestão, Mindset ainda rodava no modelo de gestão anterior. Não que ele fosse errado, mas ele era diferente. Quando você tem uma Mindset de um modelo diferente em um tempo em que o modelo de gestão é outro, a coisa não fica sincronizada. Então, esse desafio do casamento entre o modelo mental com o modelo de gestão talvez tenha sido e será, vai sendo diluído ao longo do tempo, mas talvez tenha sido uma das maiores dificuldades enfrentadas, ou a maior dificuldade.
BIFN – Quais as conquistas que o senhor destaca no atendimento à população desde a implantação do Instituto Hospital de Base?
Dr. Ismael – Primeira conquista, ela não é de número. Ela é um tanto quanto subjetiva, mas não menos importante. Que é: o trabalhador que está aqui ter o verdadeiro prazer de modificar positivamente a condição da pessoa que o procurou por uma necessidade. Então, o paciente procurou o nosso atendimento, nós percebemos atualmente um prazer enorme das pessoas em servir. Em fazer com que a experiência dela aqui seja uma experiência melhor. O hospital de modo geral é um ambiente muito hostil, vulnerável. As pessoas vêm não é por querer, mas pelo fato de precisar. Essa questão do atendimento e de fazer de maneira rápida e forma resolutiva, porque ficar em um ambiente que não é muito agradável quanto menos ficar nele é melhor.
Além disso, para a maioria das pessoas tem outras atribuições lá fora daí a importância de librar logo a pessoa para ir resolver a sua vida. E para resolver a sua vida as vezes passa a ter medicação, passa a ter uma tomografia, ter um Raio-X, uma raridade antes. A partir do momento que concertamos as coisas, nós passamos a ter mais coisas, você consegue dar uma experiência melhor de boa vontade, de disposição dos trabalhadores, além de resolver a vida das pessoas. Ela sai daqui feliz, resolvida, muitas vezes com uma consulta de revisão marcada, dentre outros fatores.
BIFN – E se tratando de saúde não é nem ter o básico, mas ter o essencial, o fundamental ao atendimento, correto?
Dr. Ismael – Justamente. Tem coisas que são tão triviais quanto o ar que nós respiramos. Então, um analgésico, um antibiótico um anti-hipertensivo, sedativo, aquilo que alivia, resolve, isso é essencial. É o básico do básico. Tem que fazer tudo isso com segurança.
BIFN – A população, até um tempo foi noticiado em diversos cantos do DF, reclamava na demora do atendimento e na falta de vagas nos hospitais do Distrito Federal. Como estão esses dois pontos hoje no Instituto Hospital de Base?
Dr. Ismael – Em relação ao tempo de atendimento, principalmente no Pronto-Socorro, nós implantamos uma metodologia visando diminuir esse tempo. Essa é a metodologia Lean, que é a metodologia de gestão que iniciou nas fábricas de automóveis do Japão no pós-guerra. Isso visa diminuir desperdício de tempo, de pessoas e de insumos. Então no atendimento do Pronto-Socorro é isso, colocando inclusive mais salas de classificação de risco e o que nós montamos, chamado de Central de Resolutividade. Essa central tem um enfermeiro, um médico, gestor de leitos, gestor de transporte, gestor administrativo, e todos esses profissionais juntos quando pinta um problema, eles dão mais celeridade para resolver.
Em relação ao quantitativo de vagas e de oferta, nós estamos em um movimento no Distrito Federal para que todas as vagas sejam ofertadas para o complexo regulador. Por quê isso? Para dar mais transparência no SUS, o paciente pode até estar lá atrás, mas sabe de fato onde ele estar e como a fila está andando. Então, estamos focando na transparência e ao mesmo tempo na equidade, que é dar mais para quem precisar e dar um menos para quem precisa de menos. Não é igualdade. Então, esse movimento de disponibilizar vaga para o complexo regulador é para a maioria das especialidades nós estamos buscando por isso. Internamente, o que temos feito com as contratações de pessoas e disponibilização de mais salas, tentando ofertar mais vagas para o complexo regulador. Hoje, nós saímos do quantitativo de 30, 35 tomografias por dia para as vezes de 150, 200 tomografias ao dia. Isso faz a fila do próprio complexo andar com maior velocidade.Nós atendíamos uma média de dez pacientes na radioterapia, nós mudamos a metodologia, ao invés de usar um aparelho que era muito obsoleto, o Cobalto, nós utilizamos o Acelerador Linear com programação para tomografia. Então, saiu de 10 para 35, que é a capacidade máxima do aparelho atualmente.
Na Oncologia, tinha 29 consultas por mês. Então o paciente era um novo diagnóstico, a primeira consulta dele a gente só estava ofertando 20 por mês. Porque para cada 20 que você colocava na fila tinha mais todos os outros que ainda utilizavam. Ou seja, eram apenas só vinte a mais por mês. Esse número saiu de 20 por mês e foi para 84 por semana. Então, nós estamos falando quase 350 consultas por mês. Não é trivial sair de 20 para 350, correto? Os nossos procedimentos cirúrgicos, praticamente só estávamos operando somente cirurgia de urgência e emergência. Agora nós conseguimos operar as eletivas. Por quê isso? Por que das 16 salas, somente seis funcionavam. Agora, doze funcionam. Dobramos essa capacidade. Então, foram várias ações internas para que a gente diminua o tempo da pessoa aqui e oferte mais vagas de atendimento, aquelas que são reguladas para o complexo e aquelas que não são, passam por regulação interna.
BIFN – Muda o governo do Distrito Federal e também o governo federal. O que isso causa em um primeiro momento no impacto no Instituto Hospital de Base?
Dr. Ismael – Cada governo tem a sua importância no seu tempo. E o nosso momento atual, sem demérito ao pregresso, é um momento de despertar a cidadania. No âmbito federal há uma busca muito grande de anticorrupção, de fazer acontecer, produzir mais, evitar desperdício, e tal. No âmbito distrital, o governo anterior teve uma importância grande porque querendo ou não, o instituto nasceu na sua vigência. E no próximo governo a expectativa que temos, mesmo por que o que nós temos ouvido falar que é um governante que prima por apresentar resultados e diminuir a burocracia, eu acho que esse modelo se casa muito bem com esse com essa maneira de pensar. Acredito que o próximo governo ele [Instituto Hospital de Base] consiga contribuir muito. É importante ressaltar que hoje o Hospital não é mais estatal, ele é paraestatal. Ou seja, ele é um serviço social autônomo. Então, existe um conselho e administração que tem um mandato de dois anos, uma parte dele. E a outra parte tem peças que são nomeadas pelo governo, mas não há remuneração, e existe a diretoria-executiva, que é de fato que faz a gestão do hospital. A diretoria-executiva ela tem um mandato de 03 anos, que foi escolhido pelo conselho-administrativo. A relação do instituto com essa mudança de governo ela tende a ser tão profícua quanto a anterior. E nós entendemos que se a secretaria nos apoiar bastante, sobretudo honrando os seus repasses, porque nós somos regidos [a nossa relação] por um contrato de gestão de 20 anos, que as metas dos resultados são acordadas ano a ano. Fazendo os repasses corretamente, sem atrasos, sem equívocos de descontos, o Instituto Hospital de Base terá condições de entregar para a população do DF, para o SUS do DF, e automaticamente para a saúde do DF, que é as bandeiras do governador, um serviço totalmente diferenciado. Além do que o próximo governo pode nos ajudar a intermediar verbas federais, e até mesmo de emendas parlamentares distritais. Então, havendo o interesse de colaborar com a população, o próximo governo tem totais condições de fazer isso através de um instrumento chamado Instituto Hospital de Base.
BIFN – Dando esse gancho em relação ao Instituto Hospital de Base, Secretaria de Saúde e Governo do Distrito federal, a implantação do Instituto Hospital de Base hoje ela está mais do que consolidada e é uma decisão irreversível?
Dr. Ismael – A implantação está completamente consolidada. Nós somos regidos hoje totalmente pelos nossos regramentos próprios. Falar que ela é completamente irreversível, eu não estaria sendo honesto com a afirmação. Porquê? Porque ela é fruto de um projeto de lei que tramitou na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e foi aprovado, e teve toda a sua implantação operacional depois. Para reverter esse modelo existe possibilidade? Existe. Mas o mesmo percurso que ele percorreu para implantar, ele precisa percorrer para desfazer. Ou seja, precisa haver um novo projeto de lei para mudar o seu regime jurídico, e esse projeto de lei precisa ser aprovado na Câmara Distrital. Uma vez aprovado, sanciona a lei, vem um decreto e depois vem o estatuto com os novos regulamentos e a implantação operacional, a gestão propriamente dita, que é a fase mais difícil. A primeira é muito burocrática, exige muita discussão, muito ideológica, mais filosófica. A segunda, ela é feita de cérebro, braço e de coração.
BIFN – Com esses números positivos não há como repensar como reverter essa implantação do Instituto Hospital de Base?
Dr. Ismael – Não seria inteligente. Esses números falam por si e eles têm capacidade de melhorar em curto prazo. Um outro aspecto importante sobre a possibilidade de reversão do modelo, que é importante considerar, que hoje esse hospital tem 3.500 pessoas trabalhando aqui dentro, fora os terceirizados. Desse total, a maioria são estatutários, são de carreira. E inclusive sou servidor da secretaria, estou cedido aqui. Ao todo, 2 mil são estatutários cedidos aqui. E 1,5 mil são celetistas. Quando se fala desse número de celetistas, são 1,5 mil famílias que dependem dessas pessoas aqui trabalhando. Isso geraria um impacto social muito grande, além do que, demitir 1,5 mil e fazer suas despesas indenizatórias o gasto disso não é trivial. E desse número, aproximadamente 1,2 mil servidores foram devolvidos para a secretaria e estão distribuídos para outras unidades. Pegar esse número distribuído por mais de 170 unidade e volta-los para o hospital novamente é algo quase impraticável. Além do que a maioria não quer, já se acomodou. Então, reverter o modelo é possível, é plenamente possível, mas não é simples. É muita energia para se gastar e quando a gente olha o restante da rede, tem muita oportunidade para melhorar. Então seria interessante, quando se olha a rede, gastar energia onde de fato não está apresentando bons resultados. Onde está, ache que é importante preservar, fomentar e melhorar.
BIFN – A saúde no Brasil enfrenta problemas até mesmo nos hospitais privados, planos de saúde, que acabam inacessíveis a maioria da população.Como o senhor vê a saúde, principalmente a saúde pública do Brasil para os próximos cinco anos?
Dr. Ismael – A saúde na verdade ela é um problema no mundo todo. Ela não é só um problema no Brasil e não é no Distrito Federal. Tem alguns aspectos para entender isso. No geral, quando você olha um segmento, no caso a saúde, que a sua inflação é mais alta do que a inflação das outras coisas, isso já é um fator dificultador. Além do que na saúde, geralmente na indústria, sempre que você incorpora a tecnologia, você baixa custo, porque você ganha em escala. A saúde é uma das poucas áreas que cada tecnologia que você incorpora mais aumenta o custo. Se você sai de uma tomografia de 64 canais para uma ressonância de 03 tesla, você incorporou tecnologia, aumentou tecnologia, mas aumentou o custo. Então, isso é feito todo ano. Existe um controle tecnológico que de dois a cinco anos as coisas começam a ficar defasadas. Esse é um aspecto.
No aspecto público, nós temos um sistema único, que foi baseado na Constituição Federal de 1988, e nós tínhamos cerca de 60 milhões de pessoas a menos. Hoje, temos 60 milhões de pessoas a mais e com as mesmas regras no país. As mesmas regras engessadas que não foram feitas pensando em se fazer saúde. Então eu considero as regras de gestão da saúde no Brasil um tanto quando anacrônicas. Com isso, eu defendo a necessidade de buscas alternativas de modelos de gestão. Essas alternativas, uma delas passa pelo serviço social autônomo, que é este modelo. Que é totalmente público, mas o regime jurídico privado, mais rápido, mais ágil e da mais resposta.
Se você olha para o privado, ela também não é barata e o privado também não está em boas condições. Os planos de saúde estão fazendo movimentos de verticalização tendo estrutura própria e buscando economias. Então, a conta não está fechando na saúde. Quando você volta para o público de novo, aproximadamente 73% das pessoas que tem plano de saúde são planos de saúde vinculados a planos empresariais, muito difícil ter um plano individual hoje em dia.E do total da população no Distrito Federal, só 25% da população que tem plano de saúde. Então, nós precisamos que a medicina privada funcione bem. Porque se não, essa taxa de 25% diminui e a dependência do público, que são os outros 75%, aumenta. Essa é a condição que atualmente está. Se está vulnerável, ela piora. Então precisa haver cada vez mais uma conversa muito sadia e colaborativa com os setores público-privado. Isso faz com que se faz necessário aproveitar os tempos ociosos do privado, que para o empresário privado isso é bom, diminui a sua taxa administrativa, diminui o seu custo, e isso é excelente para o público contra a mão de obra ociosa e diminui as filas. E não precisa de construir novas estruturas, que elas já estão construídas. Esse diálogo entre o público-privado ele é muito importante. Vamos olhar para o cenário do DF nos próximos dois anos. Nós temos uma Rede D’or Chegando, ampliando na verdade, temos o Sírio-Libanês, entre muitos outros. Somando tudo isso, nós estamos falando de mil a dois mil leitos privados a mais na cidade. E olha o contra censo: estamos aumentando os setores privados e diminuindo as pessoas que tem condição de ocupar esses leitos. Então, necessariamente o setor privado e o setor público precisam conversar melhor para essa conta fechar, se não o que está insustentável vai ficar completamente impraticável.
BIFN – O senhor falou a pouco de tecnologia, frisou bem tecnologia no meio da saúde. A saúde no país acompanha a evolução dos países de primeiro mundo na tecnologia, inclusive as redes que citou, inclusive no atendimento. Qual a sua avaliação sobre isso?
Dr. Ismael – A tecnologia ela é fantástica e não caminha para trás. Ela tem que necessariamente evoluir. Agora, o que nos preocupa é o acesso a essa tecnologia. Que grupo está conseguindo usufruir dessa tecnologia. Tendo em vista que, conforme falado antes, quanto mais tecnologia se incorpora mais caro fica. É preciso implantar a tecnologia, mas ela precisa ser diluída o teu custo para que mais pessoas tenha a capacidade de usufruir dessa tecnologia, usufruir por exemplo, nós estamos com um mamógrafo digital que ele faz cálculo da densidade da mama e só emite radiação necessária para aquela densidade. Ela não emite radiação para todo mundo da mesma forma. Se as pessoas precisam de menos radiação, ela emite menos radiação. Esse tipo de tecnologia é fantástico. Mas eu preciso de ter formas inteligentes de gestão para fazer isso chegar ao maior número de pessoas. Quando se chega ao maior número, o per capita fica menor, pois você consegue dar mais acesso.
BIFN – Na sua avaliação, o que é necessário para que a saúde tenha uma melhora significativa, além de investimento?
Dr. Ismael – Comunicação. Nos últimos anos os entes públicos pecaram em relação a comunicar a população, com a linguagem da população entenda, para que se eduque e mude de postura. Porque falo isso? O ordenamento da saúde pública no Distrito Federal e no Brasil, e as boas práticas dizem, que ele precisa de passar pela Atenção Primária a Saúde, pela estratégia da Saúde da Família. No entanto, a mentalidade da população ainda é hospitalocêntrica, quando a pessoa pensa em doença, logo pensa em hospital. Sendo que, a capacidade da resolutividade da atenção primária, desde que tenha apoio e diagnóstico com exames laboratoriais e de imagem acessível, o médico da atenção primária consegue resolver clinicamente até 80% dos casos. Se nós ampliarmos a cobertura, e precisamos ampliar, ela precisa de tecnologia, de apoio e diagnóstico, laboratório, e de imagem. Só que isso na atenção primária você consegue em escala. Com escala você reduz preço. Mas as unidades básicas elas não custam tanto. Elas são infinitamente mais baratas do que hospital. Elas envolvem menos tecnologia. Se uma unidade envolve menos tecnologia, e consegue resolver 80% dos meus problemas, eu preciso de investir nisso, sem esquecer dos hospitais. Porque quando a coisa aperta, complica, corre para o hospital. Mas, se a população não entender isso, se ela não for bem comunicada e ser convencida disso, ela não vai agir dessa forma, pois vai continuar buscando os hospitais.
Então, eu acho que investir em comunicação inteligente, saudável, de forma a chegar essa informação e a população assimilar essa informação, ela é fundamental. Isso demora, mas é preciso investir. A informação, a comunicação atual ela não tem que simplesmente reagir demandas de imprensa, que também é o papel, mas não é somente isso. Comunicação deve ser uma comunicação efetiva, utilizando estratégias de Endomarketing, Psicologia, de envolvimento do ser humano colocando ele na condição ativa do processo, e não só paciente.
BIFN – Faltou ou falta ainda uma via de comunicação para efetivamente esclarecer a população? A que veio o Instituto Hospital de Base?
Dr. Ismael – Sim, eu acredito que sim. Creio que a comunicação tenha sido a maior fragilidade nessa movimentação toda. E se a comunicação não é efetiva, não se adquire o entendimento. E muitas vezes a população que está lá de fora, sem usufruir do serviço, tem uma ideia equivocada. Quando ela se aproxima e começa a usar o serviço, ela muda de ideia. Mas então, houve sim a falha na comunicação, nessa apresentação à população do Instituto Hospital de Base, motivada muitas vezes por algumas questões ideológicas, sejam elas de interesse sindical ou judicial, mas que apresentem. E essas entidades são muito fortes, comunicam muito bem, e aí tem todo o mérito em relação isso. Mas elas apresentam os conceitos equivocados à população, que por sua vez entende dessa forma. Eu acho completamente desonesto apresentar para a população que isso aqui foi privatizado. Privatizado, quem comprou? Quem vendeu? Cadê o dinheiro? Quanto custou? Aqui continua público, o orçamento é público. Quando se vende conceitos equivocados, e comunica isso bem, a população compra essa ideia. E daí a gente forma cidadão que são cidadãos de ideias rasas e equivocadas, que não traduzem a realidade dos fatos.
BIFN – Qual o número de leitos hoje no Distrito Federal e esses números atendem à demanda de Brasília, do Entorno, e dos pacientes trazidos de outros estados para o atendimento aqui?
Dr. Ismael – Em relação aos números exatos que tenho aqui hoje, de todos os hospitais, é preciso fazer uma continha. Os leitos são de enfermaria, de UTI e de Pronto-Socorro. De enfermaria tem 499, o hospital inteiro tem em torno de 700. Já o Hospital do Gama tem em faixa de 320 a 450. Ele flutua, por ter uns leitos que são bloqueados. No Hospital de Santa Maria tem cerca de 500 leitos, Sobradinho e Hran também, são unidades menores que está aqui. Então, nesse somatório, por baixo temos 3,6 mil leitos em todo o DF. Qual é a percepção nossa? Parte desses leitos eles não estão funcionando, estão bloqueados. Aqui mesmo nós tínhamos 107 leitos bloqueados quando assumimos e reabrimos todos. Santa Maria, por exemplo, até pouco tempo atrás tinha uma ala completa bloqueada, com 52 leitos. E é importante que se invista em cuidados Crônicos, prolongados. Então, nós temos a capacidade total, e não estamos utilizando essa capacidade total. Isso faz com que a demanda, que é maior do que a capacidade do hospital, ela fique mais discrepante ainda.
Então, respondendo a sua pergunta: a capacidade total instalada provavelmente ela não atende a demanda que é crescente, e que não é só o Distrito Federal. A rede, os seus municípios do Entorno, e aí tem Minas Gerais, algumas cidades da Bahia, isso sobrecarrega um pouco mais. Nós estamos falando de aproximadamente 1,5 milhões de pessoas a mais,sem fluxo ordenado, sem uma contra autorização do Estado. O que a gente chama de TFD, o Tratamento Fora de Domicílio, não está funcionando bem. Não existe uma contrapartida, um regramento adequado. Então, precisa haver diálogo com os integrantes do Entorno. Então, a demanda é maior do que a capacidade total, e é ainda maior do que a capacidade instalada, que vai além da capacidade total. Isso é relacionado a leitos gerais. Pronto-socorro seguramente tem mais pacientes do que a capacidade instalada.
BIFN – Na sua opinião, o sistema de gestão hospitalar com o instituto implantado no Hospital de Base, tende a se estender para toda a rede pública de saúde do DF?
Dr. Ismael – É difícil responder se tende ou não, porque isso dependeria de uma decisão de governo e de Secretário de Estado. Que há a necessidade de se buscar modelos alternativos, isso é fato. A administração direta ela está falida, insuficiente e incapaz de atender a demanda da população.
Existe um modelo ideal? Te asseguro que não, porque cada realidade, cada unidade, ela tem uma característica peculiar. Então, pode ser que uma unidade funcione melhor com o serviço social autônomo, como está aqui por exemplo. Pode ser que uma outra funcione melhor como fundação hospitalar. E ai tem que se avaliar direito público ou privado. Se for direito público não altera quase nada em relação ao que está, que também é ruim. Outra possibilidade é Organizações Sociais. E outra possibilidade é a parceria público-privada. Então, existe uma fórmula mágica, um modelo mágico para tudo? Não. Precisa ser pensado de maneira estratégica, coesa e utilizando e explorando essa diversa, além da parceria direta com a iniciativa privada também.
O problema quando se fala de iniciativa privada, o pessoal logo ressalta a questão de corrupção. A corrupção não está no modelo, ela está no caráter das pessoas envolvidas. As maiores corruções recentes relatadas no nosso país foram baseadas na Lei das Licitações.
BIFN – A população pode acreditar cada vez mais em uma saúde pública de qualidade, começando pelo Instituto Hospital de Base?
Dr. Ismael – Eu acredito que sim, pois é uma busca por modelos alternativos. Agora, se houver ou existir gestores que tenham um espírito público com conhecimento de gestão para fazer essa transição, essa mudança, sim. Em se tratando de instituto eu não tenho nenhuma dúvida, mas um ano de instituto o modelo ele se consolida e passa a galgar dentro dos hospitais de excelência no Brasil. Nossa visão é que ele seja o melhor que cuida de pessoas de alta-complexidade no Brasil. Mas, se isso não tiver uma intervenção muito irracional nos demais hospitais, nas demais Unidades de Saúde, com pessoas que tem o espírito público e tenha conhecimento de gestão, tende a piorar. Porque as decisões podem ser tomadas em decisões políticas, ou na base do achometro, e quando você toma decisões puramente nessas bases simplesmente, sem avaliar dados e informação para subsidiar a decisão, a chance de equívoco em formar um grande novelo que você não acha o fio da meada, é muito grande.
BIFN – É nítida a satisfação dos servidores do Instituto Hospital de Base. Que o senhor atribui esse grau de satisfação de todos os servidores do instituto?
Dr. Ismael – Primeiro, a um aspecto muito importante do ser humano: Esperança. A Esperança de algo melhor. Segundo, a uma liderança completamente envolvida, completamente motivada e disposta a pegar essa esperança e traduzir ela em realidade, passar a ser fato. Então, quando há liderança, a alta gestão, a média gestão é envolvida dessa forma e arrasta pelo exemplo, cria-se uma grande onde do bem, uma grande onda colaborativa. Isso agora está muito efervescente, não foi assim o tempo todo. Nós passamos por momentos difíceis, principalmente quando da devolução de alguns servidores para a secretaria em meados de julho, mas esse momento ele foi superado. O que nós percebemos agora é uma grande onda do bem. É todo mundo querendo fazer o certo desde a primeira vez. Dar a sua contribuição.
BIFN – A motivação de hoje é a mesma do início da implantação, no início da sua gestão?
Dr. Ismael – Não. Ela é infinitamente maior. Eu costumava dizer lá no início que a certeza que eu tenho de que esse modelo vai dar certo é a mesma certeza de que eu estou vivo. E a motivação, é a mesma que eu tenho de continuar vivo. Então, a motivação ela é grande, não é somente minha. Se ela fosse apenas minha, estaria fardada ao fracasso. Como tem mais 3.499 pessoas motivadas na mesma vibração, só tem um caminho: o sucesso!
Da Redação Brasília In Foco News
Por Gilvan Afonso
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