Preso na Operação Trickster tem contratos milionários com o GDF

 

Apenas quatro empresas e cooperativas comandadas por Ronaldo Oliveira faturam, juntas, R$ 36 milhões com convênios no transporte escolar

Entre os 34 presos na Operação Trickster, da Polícia Civil, que investiga um esquema criminoso no qual R$ 1 bilhão teria sido desviado do sistema de bilhetagem eletrônica, está o empresário Ronaldo Oliveira. Ele comanda cooperativas e empresas que possuem sete contratos com o Governo do Distrito Federal (GDF). Somados, apenas quatro alcançam a cifra de R$ 36.051.890,36. Os convênios envolvem a prestação de serviços no ramo de transporte escolar em várias cidades do DF.

De acordo com a denúncia apresentada ao Ministério Público de Contas do Distrito Federal (MPC-DF) e que deu origem a uma representação no Tribunal de Contas local (TCDF), o Pregão Eletrônico n° 24/2016 foi colocado sob suspeita pelos conselheiros mesmo antes de vigorar.

Conforme a análise da Corte, há indícios de direcionamento de licitação e formação de organização criminosa para burlar, superfaturar, fraudar e vencer licitações. O contrato, de R$ 33.834.154,20, é destinado à realização do transporte de alunos da rede pública na região de Sobradinho.

Segundo a denúncia apurada pelo tribunal, a empresa Rodoeste Transporte e Turismo LTDA. tem como sócia Ana Rosa de Oliveira, mãe de Ronaldo Oliveira, preso na ação da Coordenação de Repressão a Crimes Contra o Consumidor, Ordem Tributária e Fraudes (Corf).

A denúncia levada ao Ministério Público de Contas aponta, ainda, que era comum a Rodoeste utilizar os ônibus da frota e seu contrato na região de Brazlândia para transportar alunos usuários do cartão estudantil. A empresa recolheria os passes dos estudantes para que fossem validados nas catracas de outros coletivos, fraudando o subsídio repassado pelo GDF.

Veja a representação do MPC-DF

Representacao MPC-DF by Metropoles on Scribd

 

Outros contratos
Além da Rodoeste, as suspeitas recaíram sobre duas das 12 empresas que participaram do processo licitatório. Todas teriam vínculo familiar ou envolvimento comercial de Ronaldo, o que contaminaria a concorrência do certame.

Uma delas é a GP Silva Transporte, que faz transporte escolar no Recanto das Emas por meio do Contrato n° 02/2017 da Secretaria de Educação.

A empresa em questão já esteve envolvida em inquéritos policiais que investigavam a falsificação de documentos durante a prestação de serviços para a pasta. Um sócio de Ronaldo Oliveira na GP Silva, Gaspar Pacheco, foi preso em 2012 como suspeito do crime.

Outra empresa, a Oliveira Transportes e Turismo, também ligada a Ronaldo, possui mais dois convênios, nas cidades de Planaltina e Brazlândia, por meio dos Contratos n° 37/2015 e n° 38/2015, respectivamente.

Mais denúncias
Ao Metrópoles, a Secretaria de Educação confirmou, por meio de nota, que tem compromissos vigentes com as empresas Rodoeste e Oliveira Transportes e Turismo. No entanto, “até o momento, a pasta não registrou irregularidades nos contratos citados”.

A reportagem entrou em contato com as empresas Rodoeste e Oliveira, mas ninguém atendeu às ligações.

Fraude em várias frentes
A ação das empresas de Ronaldo Oliveira é apenas um dos braços investigados na Operação Trickster, a qual culminou na prisão de 34 pessoas envolvidas na fraude bilionária que lesou os cofres do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). De acordo com as investigações da Polícia Civil (PCDF) e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), um mesmo cartão de vale-transporte chegou a ser utilizado 60 vezes, em apenas uma linha, em oito segundos.

Conforme ressaltou o delegado-chefe da Corf, Wislley Salomão, o sistema do DFTrans tinha algumas inconsistências que possibilitaram as fraudes, as quais incluíam também o passe livre. “Era uma maquininha de dinheiro para todo mundo. Passava o cartão no validador, sem sair da garagem”, explicou.

O grupo, supostamente chefiado pelo auditor da Secretaria de Mobilidade Pedro Jorge Brasil, preso pela segunda vez, teria desviado mais de R$ 1 bilhão do sistema de bilhetagem. Boa parte do dinheiro, acreditam os investigadores, foi aplicada no mercado imobiliário.

O esquema funcionava desde 2014, destacou a PCDF, quando o servidor estava lotado no DFTrans. A quadrilha descarregava os créditos de cartões de vale-transporte nos validadores de ônibus, de forma sequencial e em linhas distintas. Tudo era feito com empresas de fachada e trabalhadores fantasmas.

Confira imagens da operação:

 

Assessor de deputada também foi preso
Além de Pedro Jorge e da mulher dele, foram presos ex-funcionários do DFTrans, um empregado da Viação Pioneira e outras pessoas que participavam da fraude, entre elas Valdir Luiz França, velho conhecido de políticos do Distrito Federal pela atuação como cabo eleitoral. Recentemente, Valdir estava trabalhando com cooperativas de transporte em Planaltina de Goiás, Entorno do DF.

Outro detido foi Alexandre Lopes de Alencar, assessor parlamentar da distrital Celina Leão (PPS) na Câmara Legislativa. Por meio de nota, a assessoria da deputada disse que “a situação não era do conhecimento dela”. Defendeu, ainda, ampla investigação no combate a qualquer ilegalidade. Alexandre foi exonerado nessa sexta (16/3).

 

Fonte: Metrópoles

Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

 

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