Procon-DF abafa assédio envolvendo estagiária e diretor

Caso ocorreu em agosto de 2017, mas Procedimento Administrativo Disciplinar só foi aberto em janeiro, após questionamentos da reportagem

Um suposto caso de assédio sexual envolvendo uma estagiária e um diretor do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon-DF) tem sido abafado pelo órgão. Registrada em setembro de 2017, a denúncia não teve desfecho. Passou de sindicância a Processo Administrativo Disciplinar (PAD), instrumento que apura situações consideradas graves, apenas em janeiro de 2018, após o Metrópoles apresentar questionamentos sobre o assunto à autarquia.

À época do ocorrido, a direção do Procon-DF decidiu transferir a jovem para outra unidade, em Taguatinga. A mudança se deu imediatamente após a comunicação do fato. Pouco depois, ela pediu desligamento da vaga, enquanto o gestor, que ocupa cargo comissionado, foi mantido.

Profissionais do órgão, sob condição de anonimato, contaram à reportagem que a sindicância só foi aberta após a vítima registrar boletim de ocorrência na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e fazer registro na Ouvidoria do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O Procon-DF foi notificado e instaurou comissão de investigação preliminar.

Na época da queixa, a comissão formada por três servidores ouviu os dois envolvidos, além de três testemunhas, e produziu um relatório, formalizado em outubro de 2017. No texto, ao qual o Metrópoles teve acesso, a vítima afirma que o suposto agressor passou a abraçá-la de maneira mais forte. Em determinadas situações, o acusado chegou a proferir os termos “delícia” e “gostosa”.

Em agosto de 2017, o diretor teria abraçado a moça por trás, enquanto ela estava sentada, e passado os lábios em sua nuca. Na ocasião a garota gritou “que nojo” e pediu que ele parasse. Foi o estopim para a vítima denunciar o caso à direção.

Rede de apoio
Após o assédio, a estudante tomou várias atitudes para se recompor. Além do apoio familiar, procurou ajuda psicossocial na Casa da Mulher Brasileira. Desde então, ela tem feito acompanhamento com uma psicóloga. A Deam ainda apura os fatos, sem prazo para conclusão.

Em 12 de janeiro, após questionamentos da reportagem, o Procon-DF instaurou Processo Administrativo Disciplinar (PAD), procedimento que apura acontecimentos mais graves. Em casos mais simples, adota-se a sindicância, que pode resultar em suspensões de até 30 dias.

Foi estabelecido então o prazo de 60 dias para conclusão da investigação. Após o encerramento do PAD, o servidor poderá ser mantido ou destituído do cargo.

Investigação
Duas das três testemunhas arroladas nas apurações relataram não ter percebido qualquer tratamento diferenciado por parte do diretor com a vítima. Uma terceira pessoa, no entanto, confirmou em depoimento ter presenciado situações constrangedoras.

À jovem, ouvida como testemunha, o homem teria dito: “linda desse jeito, com 20 anos e cara de 15, quando estiver com 40, então, vai ser mais linda ainda”. Após a vítima comunicar a situação a uma de suas chefes, o homem nunca mais falou com a garota, que, no texto, relata dar “graças a Deus” por não ter mais contato. Mesmo com duas pessoas (a vítima e uma testemunha) alegando impertinências do diretor, ele foi mantido no cargo.

Em oitiva no Procon-DF, o diretor negou as acusações e assegurou manter uma relação profissional com a autora da denúncia. Afirmou não ter contato com ela em nenhuma rede social nem por telefone. Ele confirmou, porém, que abraçou a garota ao entrar na sala, mas negou ter dado um beijo nela.

Ao Metrópoles, a direção da autarquia disse que tem colaborado com as investigações e aguarda desdobramentos da apuração realizada pela Polícia Civil.

 

Fonte: METRÓPOLES – Foto: ISTOCK

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