Procura por vacina contra febre amarela sobe; veja quem precisa se vacinar

Desinformação e insegurança fazem com que muita gente procure os postos de saúde, acabando com os estoques de vacina. A Secretaria de Saúde reforça que só é preciso uma dose ao longo da vida

Após a confirmação de quatro mortes por febre amarela no Distrito Federal, entre 2017 e janeiro deste ano, os brasilienses estão preocupados. A procura pela vacina nos postos de saúde, muitas vezes
desnecessária, aumentou no início de 2018.  As autoridades sanitárias, no entanto, advertem que não há necessidade de alerta. Até porque 86% da população está imunizada. Além disso, quem tomou a vacina está protegido por toda a vida. Em 18 dias do ano, há seis infecções em investigação e um óbito na capital federal, o que não caracteriza um surto.
O comerciante Adyr Rashewskyj, 56 anos, mora em Taguatinga Sul e precisou ir a dois postos da cidade para conseguir a vacina. “Primeiro, fui ao nº 6 (próximo à Feira dos Importados), mas me informaram que não havia mais nada. Tive de ir até o nº 5 (perto da Vila Dimas), onde consegui tomar a dose, assim como os meus filhos. Mas isso só depois de muita fila”, reclama.
O professor Francisco Albuquerque, 41, também conseguiu se imunizar no posto de Taguatinga Sul. “Nunca tomei a vacina de febre amarela na vida, ou pelo menos não me lembro. Como estou viajando para São Paulo, que está em situação de epidemia, vim tomar a vacina para não estar exposto à doença”, conta o morador do Recanto das Emas.
A aposentada Zoraide Carvalho de Barros, 69, viajará para a China a fim de visitar a filha e precisou de uma recomendação médica para conseguir a dose. O país asiático cobra a apresentação do cartão de vacina para comprovação da dose contra a febre amarela. “Como não sabia que, a partir dos 60 anos, não se precisava mais da vacina, tive de ir embora (do posto) e, depois, pedir autorização do meu médico por conta dessa viagem. Só assim pude me vacinar. Caso contrário, não poderia ver a minha filha”, relata. “Durante o tempo em que fiquei na fila, teve muito desentendimento, gente que não conseguia informação e essas coisas”, revelou a moradora de Taguatinga Sul.
Até abril de 2017, o Brasil seguia o esquema de reforço da vacina de 10 em 10 anos. No entanto, recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2013 mudou o programa ao comprovar que apenas uma dose plena do imunobiológico oferece de 90% a 98% de proteção, sem necessidade de outras. A imunização é realizada de 9 meses a 59 anos — gestantes, lactantes, pessoas com imunossupressão, crianças com mais de 6 meses e sexagenários precisam de recomendação médica.
A infectologista da Secretaria de Saúde Eliana Bicudo esclarece que não é preciso tomar mais de uma dose. “A vacina de febre amarela está no nosso calendário; por isso, quem é nascido no DF pode ter certeza de que é imunizado. Além disso, após o surto de 2008, que houve uma grande procura nos postos, calculamos que 90% da população local não corre risco de contrair a doença”, detalha.
Eliana aponta que a demanda ocorre por desinformação. “Passamos por uma questão séria de saúde pública. Então, as pessoas precisam se conscientizar de que há gente que nunca tomou e precisa dessas doses”, conclui.
Ed Alves/CB/D.A Press
Procura
A procura faz com que os estoques dos postos de saúde acabem rápido. Segundo a técnica de enfermagem Fátima Prata, do posto de saúde nº 5, as pessoas nem mesmo levam o cartão de vacinação. “Um estoque de 100 vacinas acabou em três dias. Muitos não querem passar pela avaliação dos cartões porque acham que não estão imunizados e, quando explicamos, as pessoas não se convencem. Só que a maioria não tem chances de contrair a doença, sobretudo após o surto de 2008, quando realizamos uma vacinação em massa”, ressalta.
A diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde, Maria Beatriz Ruiz, explica que está disponível, até o fim do mês, mais de 10 mil doses. “Caso falte, a vacina é reposta no fim da tarde ou no início da manhã. Se a pessoa procurar e não tiver na hora, pode ir a outra unidade de saúde mais próxima”, afirma.

Cinco perguntas Maria Beatriz Ruy,  Diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde
Quem deve se vacinar?
A vacina contra a febre amarela faz parte do calendário de vacinação básica do DF. A partir de 9 meses, é recomendada a imunização. É preciso que as pessoas entendam que não é mais necessário tomar outra dose. Uma única é suficiente para toda a vida, de acordo com as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde.
O que fazer se a pessoa perdeu o cartão ou não tem certeza de que tomou a vacina?
Nesse caso, a orientação é procurar a unidade de saúde em que ela tomou ou pode ter tomado a vacina. Lá, identificarão pelo sistema. Caso ela, por exemplo, não lembre qual posto foi ou se é de outra unidade da Federação, a orientação é procurar uma das salas de vacinação. Lá, os profissionais saberão orientá-la.
Qual é a eficácia da vacina?
Se tomou a dose, pode ficar tranquilo. A vacina tem eficácia de 99%. A nossa orientação é que aquelas pessoas que não foram imunizadas e que farão turismo ecológico, circularão por uma área de mata ou irão para as localidades com alerta (SP, RJ e BA) busquem logo atendimento nas salas de vacina do DF.
Nos dois casos recentes do DF, as vítimas tinham vacina contra febre amarela. Por que foram contaminadas?
Não são 100% das pessoas que são imunizadas. A margem na população é entre 1% e 4% ainda suscetíveis à doença, mesmo tendo tomado a dose. Isso também depende do estado de saúde. Se o paciente tem uma doença de base, ao ser contaminada, ela pode ter um estado mais avançado. No caso do morador do Sudoeste, os estudos são com relação a uma provável doença hematológica. Verificou-se que ele tinha anemia falciforme.
Podemos considerar que febre amarela é uma doença mortal?
Não. O fato morte depende do estado atual e do histórico de saúde do paciente. Em alguns casos, acontece de a pessoa ter a febre amarela e pensar que é uma gripe. Em outros, se ela tiver um histórico de doenças, ela pode ter uma avanço maior. A demora por atendimento também pode influenciar. Mas não há motivo para pânico.

Colaborou Otávio Augusto

Fonte: Correio Braziliense – Foto:

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