Projeto “Cem anos da Cripta da Catedral da Sé” faz concerto inédito

A Catedral da Sé, em São Paulo, apresentou neste sábado (10), às 16h, no Salão do Piano, o duo Raouf Jemni e Mauricio Mouzayek. Raouf Jemni é imigrante tunisiano, compositor e tocador de Kanun, instrumento de cordas originário do século X, da região de Farab, no atual Irã. Mauricio Mouzayek é brasileiro descendente de sírios e libaneses, trabalha com música árabe desde 1995, quando tinha 18 anos, e atualmente dedica todo o seu tempo de música ao instrumento Riq (Pandeiro Oriental).

O repertório contará com música árabe moderna e música turca. A apresentação é a continuidade do “Projeto Cem Anos da Cripta da Catedral da Sé”, lançando no dia 6 de julho. A programação continua todos os sábados, gratuitamente.

Este ano, a Cripta da Catedral da Sé completa 100 anos. Produzida pelo Ministério da Cidadania e pelo Estúdio Centro, com o patrocínio da Companhia de Saneamento Básiuco do Estado de São Paulo (Sabesp) e do governo do estado, a “Série Concertos 100 Anos da Cripta da Catedral da Sé” traz 30 apresentações, reunindo grandes nomes e revelações da música instrumental e do canto coral brasileiros.

Espaços

Os eventos serão todos gratuitos, com concertos na própria cripta e em outros locais de acesso restrito da catedral (como os salões do piano e do coro). “Será uma oportunidade inédita para paulistanos e turistas apreciarem esses locais, ao som de repertórios que destacarão obras da música clássica e popular brasileira e internacional em formações tão diversas como piano solo, madrigais, canto gregoriano e até o diálogo do beatbox, com estilos mais ligados ao clássico”, afirma o diretor-geral do projeto, Camilo Cassoli.

A partir da história da cripta, serão destacados repertórios que relacionarão diversos momentos históricos da cidade de São Paulo a partir da Praça da Sé e de sua catedral. Ganharão destaque especial os povos que compõem a cidade, com a presença de grupos de diversas origens. “É muito significativo que a catedral receba e apoie eventos como esse, que valoriza sua história, a história da cidade e de seus cidadãos, aproximando todos à nossa igreja e ao centro de São Paulo”, diz Luiz Eduardo Baronto, cura da Catedral da Sé.

Os concertos acontecem aos sábados, às 16h, e são todos gratuitos (com 80 ou 120 lugares cada, a depender do local onde serão realizados). Todos terão em média uma hora de duração, com transmissão ao vivo pela internet. “Até o momento tivemos lotação esgotada em todas as apresentações, e o interessante é que os concertos não se prendem à música sacra, são diversos tipos de música e em diferentes locais da catedral, não só a cripta, e que destacam os variados povos que habitam São Paulo, como os indígenas e mais recentemente os congoleses e sírios”, destaca Cassoli.

A programação vai até março de 2020. A programação da série, conteúdos exclusivos e a íntegra dos concertos já realizados poderão ser acessadas nas redes do projeto: instagram/concertoscripta,facebook/concertoscripta  e no sitewww.concertoscripta.com.br

Curiosidades

A cripta está a sete metros de profundidade em relação à Praça da Sé. Foi projetada pelo alemão Maximilian Emil Hehl, professor de arquitetura e engenharia da Escola Politécnica. Ela abriga 32 câmaras mortuárias, 18 delas ocupadas por personagens ligados à Igreja e à cidade de São Paulo.

Seguindo a tradição das catedrais européias, a Cripta da Catedral da Sé abriga personagens fundamentais da história da cidade. Os restos mortais do cacique Tibiriçá (considerado o primeiro cidadão paulistano) e do Regente Feijó (que governou o Brasil enquanto Dom Pedro II era criança) estão no local, em túmulos com esculturas em bronze (e em tamanho real).

Há duas destacadas esculturas de Jó e São Jerônimo, produzidas por Francisco Leopoldo e Silva em Roma. O artista foi colega de Brecheret, com quem estudou na Academia da França.

A cripta tem um conjunto de quatro vitrais que destacam elementos da flora e agricultura presentes no Brasil. Durante a construção da catedral, os vitrais serviam de iluminação parcial à cripta. Com a igreja pronta, foram cobertos pela própria catedral (e hoje são destacados por iluminação elétrica). Foram produzidos pela Casa Conrado, a mesma responsável pelos vitrais do Mercadão. Os detalhes em metal da cripta foram fundidos em bronze no Liceu de Artes e Ofícios. Relevos produzidos por Ferdinando Frick destacam anjos com trombetas e uma ampulheta, remetendo a cenas do juízo final.

Entre os enterrados na cripta está o frei Bartolomeu de Gusmão: considerado o inventor do balão. Nascido em São Vicente, viveu na Espanha no século XVII, foi acusado de bruxaria pela inquisição e inspirou um dos personagens principais de José Saramago no livro Memorial do Convento.

O corpo de Santos Dumont ficou guardado na cripta durante julho e dezembro de 1932, na Revolução Constitucionalista, até ser transportado em segurança para ser sepultado no Rio de Janeiro.

O corpo mais recente sepultado na cripta foi o de dom Paulo Evaristo Arns, em 2016. O texto em latim diante do mausoléu descreve sua importância na preservação dos direitos humanos.

Foto: Rovena Rosa/ABr

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