PSDB começará 2019 com bancadas encolhidas e ‘choque de gerações’
Nas eleições deste ano, o partido perdeu dois governadores, quatro senadores e 20 deputados. Na Câmara, a atual bancada que tem em média 55 anos de idade, será substituída por uma com média seis anos mais baixa, de 49 anos. Os senadores serão três anos mais novos. A média cai de 61,5 anos para 58,5. Entre os governadores a média cai de 55 para 49 anos.
Nem direita, nem esquerda.
Nem governo, nem oposição.
Mais enxuto e rejeitado, depois de ter tido o pior desempenho da história numa eleição presidencial, o PSDB ensaia fincar a bandeira no centro para tentar sobreviver em meio a um choque de gerações.
Junho de 1988. Com dissidentes do PMDB, nascia o Partido da Social Democracia Brasileira pelas mãos de Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e deputados como Pimenta da Veiga, de Minas Gerais.
“Nós levaremos as mudanças sociais, nós levaremos avante as reformas econômicas porque esse é o nosso sonho e porque este é o nosso compromisso”, dizia ele.
Naquela época, via-se uma unidade capaz de aglutinar ideias sociais e democráticas. Valor que se perdeu com o tempo na visão da senadora eleita por São Paulo, Mara Gabrilli.
“O PT cometeu muitos erros que são erros sabidos por todo mundo e foi pro segundo turno porque o petista ele é unido em qualquer situação. Seja nos bons momentos ou nos ruins. O tucano não. Eu nunca vi essa união de tucanos e eu acho que um tucano vira as costas pro outro com muita facilidade, muda de time… E eu acho que isso sim causou essa baixa do PSDB”, diz ela.
Em 2018, com flertes à direita, e acenos a Bolsonaro, o discurso endurecido ajudou a eleger em votações apertadas apenas três governadores entre 12 candidatos, como o de São Paulo, João Doria.
“A partir de 1° de janeiro o PSDB passa a ter lado. Não vai ficar mais em cima do muro. Acabou o muro no PSDB”, discursou ele.
Mas não são muito bem-vindas pela velha guarda as posturas mais radicais.
A ideia de um partido omisso e neutro é refutada pelo senador Antonio Anastasia e pelo tesoureiro do partido, Silvio Torres, que ajudaram a construir o PSDB.
“Essa questão do muro é uma coisa que é meio folclórica. Eu acompanho o partido desde sempre. Mas recentemente o partido tem se posicionado e aliás, tem mais problemas por muitas posições do que por nenhuma posição. Foi a favor do impeachment, o partido votou às reformas, eu acho que o PSDB não merece essa pecha de murista, não, ao contrário”, defendeu o tesoureiro do partido.
“A questão do muro eu concordo com o Silvio, isso é um pouco folclore. Talvez pelo fato de ser um partido de centro, ora as nossas posições são consideradas à direita, ora podem ser consideradas à esquerda. Então isso cria mesmo esse mito urbano, essa lenda urbana que o PSDB fica no muro. Aliás, já diziam os romanos: na posição mediana que está a virtude”, diz Anastasia.
Outra crítica do tucanato tradicional aos mais novos é a dificuldade de compreender as raízes do partido, sintetizadas em 1988 pelo então deputado Nelton Miguel Friedrich:
“Felizmente temos já o perfil ideológico claro. De liberais progressistas, de sociais democratas e de socialistas democráticos”.
“A cada dia avança um pouco mais, a cada dia cresce um pouco mais. E assim, meu Brasil vamos embora, o seu Brasil é o país de agora”, dizia um jingle da época de FHC.
É, só que nas eleições deste ano perdeu dois governadores, quatro senadores e 20 deputados. E mais do que isso, vai começar o ano que vem mais jovem.
Na Câmara, a atual bancada que tem em média 55 anos de idade, será substituída por uma com média seis anos mais baixa, de 49 anos. Os novos senadores são três anos mais novos. A média cai de 61,5 anos para 58,5 anos. Entre os governadores a média cai de 55 para 49 anos.
São ícones da geração dos ‘cabeças pretas’ o governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que tem 33 anos, o senador eleito por Alagoas, Rodrigo Cunha, que tem 37, e a deputada federal reeleita por Roraima, Shéridan Oliveira, também com 33. Os três concordam que a melhor postura para o PSDB no governo Bolsonaro será se manter independente, recusar eventuais convites para cargos e votar conforme os princípios do partido.
“Da minha parte eu acho que o mais importante é o PSDB colaborar com a agenda nacional, não é sobre ocupar cargos no governo, talvez não seja oportuno”, diz Leite.
“Eu sou contra cargos agora, contra espaços ministeriais, contra esse arranjado que sempre é dado por circunstâncias. Temos agora um novo comandante. Agora é hora de ser responsável, não ser casuísta”, diz Shéridan.
“É não ser do contra por si, mas sempre ser favorável àquilo que for para o bem do país. Manter uma posição independente torcendo para que o governo vá bem. Acredito que não é salutar nesse momento querer fazer parte ativamente do governo com indicação de cargos mas sim ser vigilantes e tentar contribuir para que o presidente tenha êxito, tenha sucesso, e com isso nós estaremos fazendo a nossa função”, diz Cunha.
A nova geração tucana também comanda grandes cidades. Eles têm entre 38 e 46 anos e também devem reivindicar espaço nas decisões sobre os rumos do partido. A atual executiva, presidida por Geraldo Alckmin, será substituída em maio. Entre os prefeitos estão Rui Palmeira, de Maceió, Orlando Morando, de São Bernardo, Bruno Covas, de São Paulo, Nelson Marchezan Júnior, de Porto Alegre e Raquel Lyra, de Caruaru.
Covas: “Esse será o partido da esperança, mas por sê-lo, ele há de cultivar todos aqueles valores fundamentais que são os valores do povo brasileiro”.
Se Covas fosse vivo, talvez arriscasse: a esperança pra manter o PSDB vivo é tampar os buracos e grudar os rachas dos últimos anos. Caso contrário, a previsão da senadora Mara Gabrilli pode se concretizar.
“Eu acho que o PSDB é urgente, ou ele vai evoluir ou ele vai acabar, agora”.
Fonte: Blog Edgar Lisboa / Pedro Durán, CBN
Foto: Fotomontagem/Facebook (Eduardo Leite, Mara Gabrili, Shéridan, Silvio Torres, Rodrigo Cunha e Anastasia)