PT pode chegar sem candidato ao Buriti pela primeira vez em 28 anos

Denúncias de superfaturamento, ausência de nomes influentes e julgamento de Luiz Inácio Lula da Silva obrigam o partido a postergar o lançamento de uma candidatura própria ao Buriti. Sigla também estuda possibilidade de coligações

 

Pela primeira vez em 28 anos, o PT pode chegar à corrida eleitoral sem um candidato próprio ao Palácio do Buriti. O partido está dividido. Alguns correligionários acreditam que não é o momento de a sigla, desgastada por escândalos de corrupção, lançar um concorrente. Outros destacam a importância de uma nominata para mostrar que, apesar dos contratempos, a legenda ainda detém força e influência, além de servir como palanque eleitoral para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — ele será julgado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na quarta-feira. Independentemente da decisão final, caciques petistas não pretendem abrir mão dos cargos proporcionais para concorrer ao Executivo local, uma vez que preveem poucas chances de vitória (veja quadro).
A resistência deve-se ao desgaste da imagem no Distrito Federal. Ainda mais após a deflagração da Operação Panatenaico, que investiga um superfaturamento de R$ 900 milhões nas obras do Estádio Nacional Mané Garrincha, principal legado do ex-governador Agnelo Queiroz (PT). Para petistas, disputar o comando do GDF, neste momento, representa o risco de perder a chance da obtenção do foro privilegiado ou de mais espaço no meio político.
A dificuldade da sigla em encontrar um representante próprio ao Executivo local é visível quando comparadas as articulações deste ano às das eleições anteriores. Logo ao início de 2010, Agnelo e o ex-deputado federal Geraldo Magela disputavam a pré-candidatura ao Palácio do Buriti, o que causou um racha no partido à época — a decisão ocorreu nas prévias. Quatro anos depois, pela reeleição, Agnelo foi o primeiro candidato a confirmar participação no pleito.
De olho nas eleições de outubro, entretanto, apenas uma pessoa colocou o nome à disposição do PT para a disputa pelo GDF: a diretora do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) Rosilene Corrêa. Mas a pré-candidatura não está lançada. “As discussões estão muito precoces, e o DF não está isolado do resto do país. O partido está amadurecendo as articulações e buscamos unidade”, despistou. Apesar da possibilidade, correligionários acreditam que a candidatura não teria fôlego nem mesmo para chegar a um eventual segundo turno.
Presidente da regional do partido e deputada federal, Erika Kokay defende que, por ora, “o momento é de construção”. Ela destaca que o PT busca alianças e aguarda o registro de pré-candidatos até 31 de março. “Precisamos de uma unidade programática. Esse é um quadro que envolve muitas siglas. A única candidatura certa é a do governador (Rodrigo Rollemberg). Nós nos preparamos principalmente para a possibilidade de lançarmos um representante próprio, mas também para a eventualidade de apoiar outra pessoa”, pontuou.
A iniciativa de formar alianças antes de propor pré-candidaturas também é defendida pela ex-vice-governadora e líder petista Arlete Sampaio. “Fizemos um congresso em maio, no qual decidimos que trabalharíamos para construir uma coligação política, com partidos como PSol, PDT e PCdoB. Enquanto isso não se concretizar, não podemos lançar nomes por fora. As coisas devem se ajustar após março”, afirmou.
Efeito Lula
As estratégias para a capital devem ser definidas após 25 de janeiro, quando o partido confirmará a candidatura de Lula ao Palácio do Planalto. Conforme caciques da agremiação e mensagem encaminhada ao grupo do Diretório Nacional pelo braço direito do petista, Gilberto Carvalho, o nome do ex-presidente será lançado independentemente do resultado do julgamento do caso do triplex do Guarujá, marcado para o dia anterior no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre.
O PT-DF analisará duas linhas de posicionamento: o lançamento d e um candidato próprio, ainda que desconhecido pela maior parte da população, para realizar a defesa de Lula ou o apoio a um partido alinhado que fique na cabeça da chapa majoritária, mas acompanhe a campanha do ex-presidente nacionalmente.
Ainda assim, os nomes mais fortes do PT-DF devem concorrer às proporcionais (deputado federal e distrital). Sem mandato, o ex-deputado federal Geraldo Magela está em busca de foro privilegiado por conta de citações em delações premiadas no âmbito da Lava-Jato. Ex-executivo da Odebrecht, Paul Elie o acusou de recebimento de R$ 1,4 milhão em caixa 2 à época em que era secretário de Habitação. O valor seria referente a irregularidades nas obras do Setor Habitacional Jardins Mangueiral. Magela nega envolvimento no esquema de corrupção.
O ex-deputado federal pretende concorrer ao cargo de distrital, mas os planos podem ser frustrados por determinações do alto escalão do Diretório Nacional. A prioridade do partido é a reeleição de Erika Kokay, voz ativa no Congresso Nacional. Isso porque o partido precisa manter a representação na Câmara dos Deputados, onde tem perdido as principais batalhas, como a reforma trabalhista. Erika precisa de correligionários conhecidos que disputem o mesmo cargo para que, em conjunto, alcancem o coeficiente eleitoral de mais de 200 mil votos. Para garantir essa vitória, Arlete Sampaio também pode ter de concorrer ao posto de deputada federal. Até então, a ex-vice-governadora tem articulado pela Câmara Legislativa.
A dificuldade do PT em apresentar um candidato próprio ao Palácio do Buriti estende-se às alianças políticas — a sigla parece não encontrar um denominador comum com as demais agremiações de centro-esquerda, como PDT e PSol. Entretanto, a situação pode mudar a depender da força de Lula em datas próximas às convenções, quando as legendas e as coligações escolhem seus candidatos, previstas para o período entre 20 de julho e 5 de agosto.
Antonio Cunha/CB/D.A Press

Fonte: Correio Braziliense – Fotos: Arquivos CB

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