QUEM MATOU MARIELLE FRANCO?
Miguel Lucena*
A pergunta sobre quem matou a vereadora Marielle Franco, executada no Rio de Janeiro com nove disparos de arma de fogo, durante ação criminosa em que também foi morto o motorista da parlamentar, Anderson Gomes, é respondida conforme a posição política e ideológica de cada interlocutor. A verdade, porém, virá à tona após a montagem do quebra-cabeças da investigação policial, lastreada em testemunhos, provas periciais e elementos que surgirão com análise da motivação e meios usados para a prática do delito.
As milícias tinham interesse na morte da vereadora? Certamente, uma vez que ela concentrava suas denúncias nas atividades dos milicianos e em defesa dos moradores das comunidades pobres, mas outro grupo, o dos chefes do tráfico de drogas e armas, que está sendo esquecido pelos manifestantes em todo o País, também poderia estar motivado a matar Marielle para atingir seu objetivo.
Será que as milícias deixaram para executar Marielle logo agora, com a intervenção federal em curso? Não tiveram oportunidade antes? Ela era uma presa fácil, porque andava sem seguranças, e poderia ter sido morta saindo de uma das inúmeras atividades de que participava, sendo a vereadora uma política ativa em movimentos sociais contra racismo e homofobia.
Se assim procederam, além da repulsa pela barbaridade do crime praticado, devem ser chamados de burras e idiotas, porquanto atraíram para si toda a mobilização das forças federais concentradas no Rio.
Podem ter sido também os traficantes de drogas e armas. Os criminosos não têm compaixão. Mesmo que a vereadora nunca os atacasse, se a morte dela servisse aos objetivos do crime estruturado, os bandidos não sentiriam pena nem pensariam duas vezes antes de assassiná-la, desviando a atenção para a atuação também nefasta dos milicianos.
Vamos aguardar o desenrolar das investigações. Não há crime insolúvel. Muitos não são elucidados por falta de condições e interesse. A morte de Marielle e Anderson, mais a dela do que a dele, porque morreu como alvo secundário, não ficará no rol dos insolúveis, como se dizia antigamente. Quando a verdade vem à tona, alguns costumam ficar incrédulos, por terem abraçado a teoria espalhada, como ocorreu na apuração da morte de Ana Elizabeth Lofrano, executada a mando do marido, José Carlos dos Santos, o delator da Máfia dos Anões do Orçamento.
Fica o lamento pela morte de Marielle e Anderson. O Rio, que sempre foi lindo, tornou-se perigoso, amoral e feio, e somente escapará da destruição com uma intervenção total e o afastamento dos governantes locais, atolados no lodaçal da corrupção.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista, escritor e colunista do Brasília In Foco News