Reforma de Caiado pode exonerar secretárias da Economia e da Educação. Confira quem deve ficar
Governador de Goiás não fala em prazos, mas deputados e auxiliares do governo sugerem que, entre setembro e dezembro, haverá mudanças no 1º e no 2º escalão
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), não aprecia descartar auxiliares, mesmo aqueles que avalia como não eficientes. E, anote, se políticos pressionarem para que demita um auxiliar, competente ou não, a tendência é que o mantenha no cargo. Mas é provável que, entre setembro e dezembro, o gestor estadual promova uma reforma com o objetivo de tornar o governo mais eficiente. A tese é a seguinte: o governo está fazendo os ajustes necessários, com o objetivo de pagar as contas mensais — como a folha do funcionalismo público —, mas não pode ficar apenas cortando, pois vai chegar a hora em que investe ou o governo, do ponto de vista da lua de mel com a sociedade, “acaba”. Politicamente experimentado, com anos de batente, Ronaldo Caiado sabe disso. Quer dizer, governo que só corta e não investe não ganha eleição e sai com a imagem arranhada.
Há quem defenda que, além de mudanças no primeiro escalão, será preciso promover algumas mudanças no segundo escalão (já a partir de junho ou julho, ou seja, logo depois da reforma administrativa). O Jornal Opção ouviu dois secretários, oito deputados (estaduais e federais), três auditores fiscais do governo, dois empresários e dois analistas políticos que se dizem “ronaldocaiadólogos” (especialistas em Ronaldo Caiado), que, sob anonimato, sugeriram quem deve ficar e quem sair do governo, entre setembro e dezembro deste ano. “Caiado sabe que precisará começar 2020 com outra perspectiva, não mais a dos cortes, e sim a dos investimentos. Se não mudá-la, o governo acaba no segundo ano.”
Num primeiro momento, Caiado montou um secretariado técnico, o que, na opinião de seus aliados, “evitou a corrupção, mas também paralisou o governo”, afirma um “caiadólogo”. Enganam-se aqueles que acreditam que, em seguida, Caiado vai remontar o governo com políticos, excluindo os técnicos. Não vai. Mas o governo terá mais pegada política. Isto é certo.
Quem deve sair
Cristiane Schmidt — Secretária da Economia. Detalhe: todos os ouvidos disseram que Ronaldo Caiado a respeita, sobretudo devido à sua seriedade. Não há notícia de que tenha pedido um centavo para empresários para liberar pagamento. É decente. O problema, segundo os entrevistados, é que “venderam” a respeito da economista duas coisas que não são se revelaram verdadeiras.
Primeiro, disseram que, por ser “amiga” do ministro da Economia, Paulo Guedes, iria abrir as portas do governo federal. Tal não ocorreu. Ser recebido pelo czar da economia é uma coisa, resolver problemas de caráter institucional é outra coisa. Por isso, o próprio Caiado teve de ir a campo, para conversar diretamente com o presidente Jair Bolsonaro e com Paulo Guedes, em busca de soluções — dinheiro, em linguagem sem eufemismo — para a crise do governo de Goiás. Lá, o gestor estadual, um político bem-intencionado e não fisiológico, descobriu o óbvio: o governo de Bolsonaro só pode resolver o problema de Goiás, a escassez de caixa, se resolver o dos demais Estados. Não há canais institucionais para equacionar crises de apenas um Estado. Por isso, fora recursos extras que chegaram para a saúde — a ação do ministro Luiz Henrique Mandetta foi fundamental —, o governo de Caiado não recebeu praticamente nada do governo de Bolsonaro.
Segundo, no ponto de vista estritamente local, Cristiane Schmidt não conseguiu traçar um plano para aumentar a arrecadação do governo. A política de reduzir incentivos fiscais, longe de resolver o problema de caixa do governo, pode gerar desindustrialização e, ao mesmo tempo, travar a atração de outras empresas para o Estado. “Falta a Cristiane Schmidt sabedoria, maturidade, bom senso. Não teve experiência com gestão pública noutro lugar — nem na iniciativa privada nem no setor público — e, por isso, está completamente perdida. Todos sabem disso, menos Ronaldo Caiado. Para piorar, não sabe gerir pessoas, não consegue agregá-las em torno de uma ideia para beneficiar o crescimento e o desenvolvimento de Goiás. Típico de quem não conhece a especificidade do setor público, menospreza as ideias dos outros, sempre de maneira arrogante”, afirma um deputado estadual, por sinal, aliado de Caiado.
Um auditor fiscal, que acompanhou os trabalhos de vários secretários, como Jalles Fontoura e Ana Carla Abrão, é peremptório: “Cristiane Schmidt trouxe seis pessoas de fora de Goiás. No Fisco, se quer ter o apoio da equipe, o secretário não deve chegar com um grupo montado. Ela e seus auxiliares entendem de interpretação do que é a economia, para discutir inflação e crescimento econômico, mas pouco sabem sobre fisco, sobre o funcionamento real da economia”. Um empresário complementa: “A secretária esteve na Fieg e falou de maneira incisiva que era contrária aos incentivos fiscais e sugeriu que uma pesquisa da Adial — sobre a importância dos incentivos e do apoio deles na sociedade — não era ‘confiável’. Mesmo que isto fosse verdadeiro, e não é, trata-se de uma espécie de sincericídio invertido e soa, sobretudo, como desrespeito. Ela deveria ter dito que algumas políticas precisam ser revistas, notadamente quando há distorções, mas não pode negar que os incentivos são fundamentais para o desenvolvimento do Estado”. Um secretário assinala que as pessoas pensam que Caiado está mandando recados. “Mas não é bem assim. A Cristiane fala mais por si do que pelo Caiado. Quando for embora, talvez nem visite mais Goiás, pois não tem compromisso algum com o Estado. Os problemas e as arestas ficarão para Caiado, o que certamente o preocupa”.
Um deputado afirma que Cristiane Schmidt “encasquetou” de não passar o duodécimo integral para a Assembleia Legislativa. “Ora, o mínimo que uma secretária da Economia deve saber é que não se pode atropelar a lei. Se reduzir o duodécimo, estará cometendo crime de responsabilidade. Falta-lhe, inclusive, assessoria jurídica adequada. Deveria consultar a Procuradoria do Estado antes de debater com deputados.”
Consta que Cristiane Schmidt desconsiderou uma pesquisa na qual Goiás aparece em terceiro lugar no ranking da eficiência fiscal. Os auditores fiscais ficaram chocados.
Fátima Gavioli — Secretária da Educação. Sua importação de Rondônia para Goiás sugeriu, à primeira vista, que se tratava de uma sumidade. Sendo assim, ficaria justificada a descortesia com a Universidade Federal de Goiás (UFG), com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e a Universidade Estadual de Goiás (UEG), que, embora tenham professores qualificados — educadores também especializados em gestão —, foram solenemente desprezadas.
De repente, o governo começou a perceber que Fátima Gavioli não é uma sumidade, é uma espécie de “Dunga da Educação”. É decente, séria, mas não tem uma visão ampla da educação, não é gestora e começou a entrar em atrito com aliados do governador Ronaldo Caiado. Assim que foi possível, pôs para fora da superintendência-executiva da secretaria o professor Manoel Barbosa, aliado do deputado federal José Nelto (Podemos).
Funcionários da Secretaria da Educação chamam Fátima Gavioli de “Polyana adulta”, pois, na visão deles, é um “feixe de emoções” e “adulaçlões”. “Fátima é boa gente, mas não entendeu que Goiás (6,4 milhões de habitantes) não é Rondônia (pouco mais de 1,5 milhão de habitantes). Ao nomeá-la, Ronaldo Caiado deu um passo atrás e, embora não possa dizer isto, sabe que cometeu um grave erro”, admite um secretário. A tendência é que a secretária peça para sair, se ao menos tiver consciência do que está acontecendo. Se não pedir, pode ser retirada, entre setembro e dezembro.
Wilder Morais — Secretário da Indústria e Comércio. O empresário tem o apreço de Ronaldo Caiado, mas a batalha do governo contra os incentivos fiscais o enfraqueceu. Ele pretende deixar o governo em março de 2020, daqui a nove meses e alguns dias, para disputar a Prefeitura de Goiânia. Mas como há a tendência de o governador pedir os cargos de quem for candidato em 2020 já em dezembro, ele deve deixar o cargo mais cedo, até para colocar seu nome na praça e aumentar as articulações políticas. Se sair, o que deverá acontecer, será por contra própria, porque Caiado gosta de seu trabalho.
Pedro Sales — Secretário de Administração. É apontado como “sério e competente”. Caiado aprova seu trabalho. Mas criou arestas com vários outros secretários, de maneira desnecessária. Por falta não de competência, e sim de “inteligência emocional”. É visto como “a Cristiane Schmidt de calça”. Vai sair? É provável que não. Mas está na lista dos que estão “perigando”, segundo deputados.
Quem deve ficar
Ernesto Roller — Secretário de Governo. É visto por todos, sobretudo pelos deputados, como “top”. O ex-deputado e ex-prefeito sabe que nenhum governo funciona sem uma articulação política hábil e agregadora. Ronaldo Caiado o ouve e aprecia tanto sua sinceridade quanto sua lealdade. As relações com a Assembleia Legislativa melhoram quando Roller entra em campo. Portanto, fica no governo.
Rodney Miranda — Secretário de Segurança Pública. O governador Ronaldo Caiado aprecia a eficiência técnica de Rodney Miranda. Não é fácil agregar Polícia Militar e Polícia Civil, e colocá-las para trabalhar em harmonia e sobretudo chefiá-las. Há delegados que pensam que são deuses. Há coronéis que têm certeza que são deuses. Com diplomacia e comando técnico, Rodney conseguiu aglutinar aa forças policiais. O governo garante que a violência caiu, sem discutir questões sazonais (de repente, com a migração de grupos do crime organizado, a criminalidade pode voltar a subir). De fato, a polícia está mais presente.
Andrea Vulcanis — Secretária do Meio Ambiente. É apontada como técnica, mas não burocrática. “De uma tacada, acabou com a corrupção e com a burocracia”, frisa um deputado. “Ela é firme e sabe gerir”, postula um empresário. “Está lá tanto para proteger o meio ambiente quanto para não travar o desenvolvimento de Goiás”, acrescenta o empresário.
Ismael Alexandrino — Secretário da Saúde. É apontado como top. Na sua área, funcionários comissionados não são indicados por políticos. Eles têm de fazer uma prova. Se aprovados, são nomeados. Com menos de 40 anos, especializou-se na Itália, dirigiu o Hospital de Base em Brasília e, portanto, tem experiência. Segundo um secretário, “não é o secretário dos problemas, e sim das soluções.” Deve ser mantido.
Edival Lourenço — Secretário da Cultura. Mesmo sem recursos fartos, o escritor tem movimentado a pasta e agrada (porque é agregador e não faz promessas vãs) o setor artístico de Goiás. É apontado como eficiente e íntegro. Fica no governo.
Antônio Carlos de Souza Lima Neto — Secretário da Agricultura. Os setores da agricultura e da pecuária — enfim, o agronegócio — o apoiam. Portanto, deve ficar.
Valéria Torres — Secretária de Comunicação. Tende a continuar — é vista como “íntegra e competente” —, mas os entrevistados sugerem que, se não mudar a política de comunicação do governo, pode sair chamuscada. Para influenciar Caiado a investir mais em comunicação, criando uma autêntica política comunicacional, é preciso ser forte, o que equivale a ter aliados políticos. Governo (e secretário) que não se comunica se estrumbica. Cobra-se dela, no governo, que tenha conhecimento mais amplo dos comunicadores de Goiás. Frise-se que não é Valéria Torres que barra mais recursos para a comunicação. A decisão é de Ronaldo Caiado.
Fonte: JORNAL OPÇÃO – Fotos: Reprodução