Reitor da UFSC sabia de operação sigilosa da PF, diz relatório
Operação apurava irregularidades em bolsas de estudo na Universidade Federal de Santa Catarina
Uma troca de mensagens por celular apreendida pela Polícia Federal indica que o então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, foi informado com antecedência que uma operação sigilosa da PF apurava irregularidades em bolsas na universidade.
Semanas depois, ele assinou ofício para retirar da Corregedoria da UFSC investigação que tramitava sobre o assunto. O vazamento ocorreu quando a operação da PF, que depois ganharia o nome de Ouvidos Moucos, ainda estava em segredo de Justiça.
Um relatório da CGU (Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União), que analisou as mensagens apreendidas, aponta que a informação sobre a investigação da PF foi repassada a Cancellier por Alvaro Prata, ex-reitor da UFSC e atual secretário de Desenvolvimento Tecnológico do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Ele disse a Cancellier que soube do caso porque o corregedor da UFSC, Rodolfo Prado, manteve uma audiência em Brasília com o presidente da Capes, Abílio Baeta Neves.
A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério da Educação, repassava os valores da UFSC para o programa de ensino que estava sob suspeita. O corregedor pretendia informar ao presidente do órgão sobre as irregularidades na UFSC e pedir providências a respeito, como a suspensão dos repasses.
Prata escreveu a Cancellier: “Finalmente conversei com o presidente da Capes sobre a reunião com o corregedor. O corregedor não deu detalhes e apenas comunicou sobre uma ação da PF em curso e em sigilo envolvendo recursos da Capes e o ensino a distância na UFSC. Fiquei preocupado, depois ligo”.
A Operação Ouvidos Moucos da PF foi deflagrada quatro meses depois, em setembro de 2017. As mensagens entre Cancellier e Prata ocorreram de 2 de maio a 8 de julho de 2017. Poucos dias depois, em 19 de julho, Cancellier assinou ofício pelo qual retirava o processo que estava em poder de Rodolfo Prado.
Por esse ofício e outros depoimentos de professores que indicavam tentativas de obstrução da investigação, a PF e o Ministério Público Federal pediram a prisão e o afastamento de Cancellier, o que foi aceito pela Justiça Federal.
Dias após ter sido solto por outra decisão judicial, Cancellier se matou em um shopping de Florianópolis.
Prata manifestou a Cancellier, nas mensagens, preocupação sobre as investigações. “O Abílio me ligou para informar dos resultados da reunião e me avisou da liberação de recursos. Ele acha que você está subestimando a ação do corregedor”, escreveu Prata. Em outra mensagem, Cancellier manifestou seu desconforto com a movimentação do corregedor. “Acho estranho um corregedor pedir uma audiência para Capes sem passar pelo reitor.”
Em julho, Prata voltou a alertar Cancellier: “O presidente da Capes está achando que você não está dando a devida atenção ao problema”.
O reitor quis saber se ele tinha “conseguido alguma informação”. “Sim. Ele [Neves] me confirmou que o problema na UFSC é sério. (…) Me falou inclusive que a equipe que esteve aí fazendo uma auditoria fez um relatório crítico e desabonador”, respondeu Prata.
OUTRO LADO
Prata afirmou que, em virtude dos cargos que ocupou e ocupa, “mantém relações tanto com a Capes como com a UFSC”. Ele disse que já foi “ouvido como testemunha e prestou todos os esclarecimentos”. À PF em setembro, Cancellier defendeu-se das suspeitas e negou irregularidades. A Capes afirmou que não é investigada e que seu presidente “limitou-se a pedir informações” a Prata. Com informações da Folhapress.
Fonte: Notícias Ao Minuto
Foto: Pipo Quint/Agecom/UFSC