Rumores de que Maduro vai a Porto Alegre encontrar-se com Lula no Forum Mundial Social
Jose Antonio Severo –
Nesta sexta-feira correram rumores em Brasília de que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, iria a Porto Alegre no fim do mês para se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos dias em torno de seu julgamento. A vinda do mandatário venezuelano ao País se daria a propósito de uma participação no grande evento da esquerda internacional que se realiza em Salvador, o Fórum Social Mundial, com esticada à capital gaúcha.
Esta viagem para participar do Fórum, de cunho meramente político sem caráter de visita oficial, seria a justificativa para não acirrar mais ainda os ânimos entre o Palácio Miraflores e o Itamaraty, bastante excitados. Nas últimas semanas as relações entre os governos de Brasília e de Caracas azedaram muito, primeiro com a expulsão virtual do embaixador brasileiro, Ruy Castro, declarado persona non grata e, agora, com o empurra-empurra representado pela recusa da polícia venezuelana de fornecer informações sobre o paradeiro e situação jurídica do brasileiro Jonathan Moisés Diniz, preso no interior acusado de subversão contra o governo do País. Só ontem à noite foi admitida sua detenção.
O Fórum Social Mundial é boa desculpa para Maduro romper seu crescente isolamento, pois se trata maior acontecimento da esquerda na América do Sul que se realiza nos meses de verão e destino de militantes e ativistas europeus nas férias de inverno do Hemisfério Norte.
Desse evento de Salvador devem participar, além de Maduro, se o chefe de estado confirmar sua vinda, o ex-presidente uruguaio Pepe Mojica e do prêmio Nobel argentino Adolfo Esquivel. Há expectativa de que todos se desloquem para o Rio Grande no dia do julgamento, juntando-se à massa de ativistas e militantes que estão se dirigindo para Porto Alegre.
Neste sentido também se especula sobre os motivos de Lula, uma personalidade internacional, ser julgado nos dias do Fórum se realiza no País, abrindo o chamariz para que Porto Alegre seja tomada por ativistas do mundo inteiro que vieram ao Brasil para o evento da Bahia e com a imprensa internacional acompanhando as personalidades que estarão no País e que deverão se redirecionar para o Estado.
Algumas fontes admitem que a data fosse propositalmente escolhida para que o julgamento se desse frente à massa de apoiadores do ex-presidente, tanto no Brasil como no Exterior, a fim de a Justiça brasileira afirmar sua competência. A presença da imprensa mundial pode ser uma arma de dois gumes, que acabe por assimilar que Lula está num julgamento criminal, e não politico, aberto a todos. Por outro lado, pode abrir nas mídias uma avalanche de condenações ao Brasil e a seu governo. Se a data foi escolhida de propósito trata-se de alto risco calculado; se não, sendo por acaso revelaria um descuido inexplicável.
A questão da Venezuela é um fato novo nesse episódio, se é que Maduro virá ao Brasil para o Fórum e irá efetivamente a Porto Alegre. É provável que esta especulação seja apenas uma vaga esperança de alguns apoiadores do ex-presidente, mas ela se compõe no obscuro quadro sul-americano.
Nesta semana, um artigo do general Sérgio Westphalen Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, ressaltando a importância e oportunidade da ENINT (Estratégia Nacional de Inteligência), programa de informações secretas internas e externas do governo brasileiro, acende uma luzinha amarela no painel da política externa: nesta entrada do ano de 2018 a crise da Venezuela dá sinais de que pode transbordar para uma guerra civil, bem na fronteira mais conturbada do Brasil neste momento.
O artigo de um figurão venezuelano no exílio publicado na imprensa internacional acendeu o rastilho. Ricardo Haussmann, ex-ministro do Planejamento (1992-93) e que depois de fugir do País foi economista-chefe do Banco Interamericano (organismo da ONU) e agora é diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard, escreveu conclamando à comunidade mundial para uma intervenção militar na Venezuela.
Seus argumentos seriam ridículos se ele estivesse, efetivamente, pensando o que escreveu. O que se conclui é que ele lançou uma tocha acesa para acender o pavio de um levante militar interno para derrubar o presidente Nicolás Maduro. Se esse movimento for consistente, guerra civil é inevitável, pois o sucessor de Hugo Chávez tem forte esquema militar, que pode resistir a uma rebelião de parte das forças armadas.
Com apoio político, financeiro e logístico internacional, uma força armada dissidente poderia se sustentar no terreno e no tempo, criando uma situação de beligerância. Este é o perigo. Não só da avalanche de refugiados que um conflito de grandes proporções e durabilidade provocaria, mas também pela saia justa em que o Brasil se veria metido se começasse a correr bala de canhão no país vizinho.
A profundidade da proposta é muito duvidosa, embora seja improvável que uma personalidade como Haussmann se dispusesse a uma gafe deste tamanho se não tivesse uma carta na manga. Entretanto, vozes consequentes de formadores de opinião descartam a possibilidade de uma intervenção militar estrangeira na Venezuela. Foi o que disseram expressões venezuelanas como Colette Capriles, Xavier Costaguela (diretor do jornal “Tal Cual”, de Caracas) ou analistas brasileiros como Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas, ou Clóvis Rossi, decano a crônica internacional da imprensa brasileira.
Bem ou mal, com fraude ou sem fraude, há uma porta aberta com as negociações para uma saída eleitoral entre oposição e governo numa conferência de paz em andamento na República Dominicana. Uma explosão de violência armada seria algo inaceitável e botaria o Itamaraty num a saia justa.
Já o ministro-senador Aloísio Nunes poderia fazer uma limonada no caso de um aumento de temperatura na fronteira norte. Titular de um ministério sem expressão eleitoral e com um pleito difícil pela frente, bem que o tucano paulista poderia montar no cavalo encilhado que passaria à sua frente, condenando o desastrado ditador de Caracas e animar sua reeleição como paladino da liberdade na América do Sul. Em São Paulo bater em Maduro dá voto. O chanceler brasileiro já se apresenta como o grande alvo e adversário internacional eleito por Maduro, que acaba de expulsar o embaixador brasileiro. É um bom prato para a ceia das urnas em outubro. Basta espremer os limões e adoçar o suco.