Sessão do aborto na Argentina inicia com ampliação da vantagem do ‘não’
Caso a legislação seja derrubada nesta quarta, só poderá ser apresentada novamente a partir de 1º de março de 2019
As “verdes” chegaram antes à praça. Às 10h30 desta quarta-feira (8), sob chuva e com um frio de 9ºC, as militantes pró-legalização do aborto já faziam barulho na praça diante do Congresso argentino, todo cercado por placas metálicas. Algumas tinham feito vigília toda a noite anterior.
Aos poucos, foram chegando também os “celestes”, que são contra a legalização do aborto, e seus cartazes contra o governo e fetos de plástico.
Foi com esse clima do lado de fora que, do lado de dentro, começou a sessão que definirá se a Argentina aprovará a despenalização da interrupção da gravidez apenas pela vontade da mãe até a 14ª semana.
O projeto já passou pela Câmara de Deputados e, caso seja aprovada nesta sessão, que promete entrar noite adentro, virará lei, pois o presidente Mauricio Macri já declarou que não vetará a decisão do Congresso.
Apesar da mobilização nacional e internacional, o placar amanheceu ainda mais dilatado contra a lei, quando o senador peronista José Alperovich, um dos indecisos, declarou seu voto.
Agora o placar está em 38 contra, 31 a favor e um indefinido. A votação propriamente dita ocorre, porém, apenas ao final da sessão de discursos, que deve tomar todo o dia -estão inscritos para falar 60 dos 72 senadores.
O líder do peronismo no Senado, Miguel Pichetto, impulsor da lei, disse que o placar contra ainda pode ser contornado. “Está claro que há uma posição consolidada pelo ‘não’, mas faremos esforços durante o dia.”
Os primeiros discursos do dia foram contra o aborto, como o do senador Mario Fiad, da União Cívica Radical, que afirmou: “Não há dúvidas de que a vida começa com a concepção. Sendo assim, fica claro a partir de quando devemos defender a vida.”
Há três ex-presidentes no recinto e que irão votar. Cristina Kirchner, a favor, Carlos Menem e Adolfo Rodríguez Saá, contra.
As manifestantes “verdes” do lado de fora mostravam animação apesar do clima hostil. Com capas de chuva de cor verde-clara, ou cabelos pintados de verde, ou apenas com o lenço no pescoço, diziam que iriam aguentar a temperatura e a “mala onda” (mau humor) dos congressistas antiaborto.
“Temos uma dívida com as meninas que morreram porque ficaram sozinhas na hora de abortar”, diz Malena Ruiz, 26, com uma garrafa de mate e um cobertor envolto num plástico, “para a noite”.
Do lado “celeste”, havia mais tranquilidade, porém menos participantes. “É preciso permanecer aqui mesmo com a votação em nosso favor, isso é a Argentina e as coisas podem mudar, temos que permanecer vigilantes para que não matem nossas novas gerações”, disse Magdalena Ferrari, 64, que levava apenas o lenço azul-celeste amarrado em torno do pescoço.
Caso a legislação seja derrubada nesta quarta, só poderá ser apresentada novamente a partir de 1º de março de 2019.
Há senadores “verdes”, porém, exercendo pressão sobre seus colegas para mudanças de última hora, como as apresentadas nas últimas semanas (diminuição do teto de 14 para 12 semanas e inclusão da objeção de consciência) ainda na votação desta quarta-feira.
Essa hipótese já havia sido negada na semana passada, mas pode ser reestabelecida se houver quórum desta vez. Com informações da Folhapress.
Fonte: Notícias Ao Minuto
Foto: Reuters / Marcos Brindicci