Terracap usa manobra contábil para disfarçar prejuízo milionário
Após amargar prejuízos consecutivos, o balanço da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) referente a 2017 surpreendeu. Não pela perspectiva de recuperação da saúde financeira da empresa, mas por trazer uma maquiagem contábil capaz de disfarçar a real condição da estatal.
O relatório, publicado no site da Terracap em 25 de abril, aponta um lucro líquido de R$ 267 milhões no ano passado. Resultado radicalmente diferente do alcançado em 2016, quando as contas da agência fecharam com prejuízo de R$ 254 milhões.
O suposto milagre, no entanto, é apenas produto de uma ginástica contábil capaz de encobrir as perdas e reverter os números negativos. A análise do desempenho apresentada pela empresa pública revela que a Terracap continua longe de sair do buraco, apesar de o resultado final aparentemente mostrar o contrário.
A receita líquida (aquela que já vem com todas as deduções) da venda de bens e serviços da agência em 2017 foi de R$ 328 milhões. Por outro lado, as despesas da Terracap atingiram R$ 500 milhões. A subtração dos dois valores apontaria um prejuízo de R$ 172 milhões.
O rombo, contudo, foi encoberto por duas manobras. A primeira foi a diminuição do valor de dívidas consideradas difíceis de receber. A importância estimada comprometida com os devedores despencou de R$ 263 milhões para R$ 95 milhões. Ou seja, R$ 168 milhões, o que, no balanço, fez o prejuízo desaparecer das planilhas.
Essa diminuição de valores de difícil recebimento é irreal, pois, para que isso tivesse ocorrido, seria necessário os R$ 168 milhões terem entrado no caixa – o que não se verificou. Sendo, assim, um mero artifício contábil.
Reavaliação
A segunda alteração que ajudou a tirar as contas da empresa pública do vermelho foi a reavaliação do estoque de terrenos. Em um período difícil para o mercado, o valor dos imóveis da Terracap subiu R$ 224 milhões. Qualquer morador de Brasília tentando vender no meio imobiliário sabe que os preços estão em queda.
Outro ponto que chama atenção é o dinheiro disponível em caixa. Em dezembro de 2016, havia R$ 106 milhões. Já no fim do ano passado, o saldo era de R$ 9,4 milhões – cifra suficiente apenas para cobrir seis dias dos gastos da empresa. Não por acaso, a companhia começou o ano de 2018 recorrendo a instituições financeiras.
O pedido de empréstimo de R$ 35 milhões foi publicado no Diário Oficial do DF no dia 22 de janeiro. A agência justificou a solicitação afirmando que o objetivo era cobrir despesas com infraestrutura e ações judiciais referentes ao bairro Noroeste e, assim, garantir a liquidez da empresa.
Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscittelli, os números do balanço são altamente questionáveis por “haver indícios de que os resultados foram artificialmente produzidos, já que levaram em consideração valores que não entraram em caixa”.
O outro lado
Em nota, a Terracap admitiu que absorveu um prejuízo de R$ 1,3 bilhão em razão da reforma do estádio Mané Garrincha, de sua propriedade. A empresa diz ter reduzido gastos, melhorado a eficiência administrativa e feito renegociação de dívidas, entre outras medidas que contribuíram para o equilíbrio financeiro.
A estatal nega qualquer tipo de maquiagem no balanço. Alega que a reversão de R$ 168 milhões da provisão de devedores duvidosos é justificada pela metodologia aplicada e aprovada por auditoria independente desde 2013. Destaca que houve diminuição dos índices de inadimplência e, em consequência, reduziu-se, na mesma proporção, o respectivo provisionamento.
Sobre a valorização dos imóveis, informou que os seus estoques estavam com valores desatualizados desde 2009 e, por isso, foram corrigidos.
Fonte: Metrópoles
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