A Torre de TV vai cair? Veja o que o Metrópoles apurou
Laudos de 2014 e 2015 alertaram a Novacap para a necessidade de obras no monumento, que apresentava problemas estruturais
Após o desabamento de um viaduto no Eixão Sul e o descarrilamento de vagões do Metrô em menos de um mês, a situação de outro espaço público está preocupando os brasilienses. A divulgação de documentos de 2014 e 2015 que apontam falhas estruturais na Torre de TV repercute nas redes sociais.
Mas afinal, a Torre de TV corre o risco de cair? O Metrópoles conseguiu os laudos, falou com a empresa responsável pela análise, conversou com especialistas e ouviu o GDF. Veja o que sabemos até o momento
1 – Laudos revelam problemas estruturais
Laudos feitos em 2014 e 2015 colocam a Torre de TV na lista de obras em péssimo estado de conservação e que necessitam de manutenção urgente. Um dos documentos, com data de 8 de abril de 2015, alertava a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) para a necessidade de obras no monumento turístico da capital federal.
O texto, elaborado pela J.L.C. Engenharia de Projetos e Consultoria, avisa sobre uma série de problemas. Os engenheiros da J.L.C. encontraram infiltrações de grande porte. A forte concentração de umidade causou corrosão no concreto e nas armaduras do projeto.
“Consideramos as fragilizações estruturais constadas muito graves, impondo inclusive restrições às questões de utilização e de segurança estrutural”, alertam os especialistas José Luiz Cardoso e Luiz Eduardo Cardoso.
Sobre a cobertura do mirante, os engenheiros relataram que fizeram inspeções na estrutura do concreto armado, em lajes maciças, vigas e pilares. Eles constataram a existência de “alto grau de deterioração estrutural, onde a causa principal é a infiltração e a falência do sistema de impermeabilização”.
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2 – Empresa contratada para fazer reparos diz que nem tudo foi executado
Ao Metrópoles, a sócia administradora da empresa Concrepoxi, Regina Márcia Nunes Gaudiêncio, confirmou que prestou serviço ao GDF a fim de fazer reparos no monumento. O contrato foi firmado em 2013, para que a obra estivesse em boas condições, inclusive estéticas, para receber o público durante os jogos da Copa do Mundo de 2014.
O documento estabelecia, ainda, que fosse feita análise sobre as condições estruturais. Regina, então, contratou a J.L.C. Engenharia de Projetos e Consultoria para fazer o estudo. A gestora informou que, por questões de ética profissional, não poderia passar detalhes sobre os problemas encontrados, mas “o serviço não foi 100% concluído”.
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3 – Intervenção meramente “estética”
No laudo elaborado pela J.L.C. Engenharia de Projetos e Consultoria, a empresa cita que a intervenção feita no local foi meramente “estética”, ressalta a preocupação quanto à gravidade do problema e sugere o início imediato das obras, pois o contrato assinado também previa a recuperação estrutural da Torre de TV.
“É de similar importância a liberação dos serviços de inspeção visual identificados pelo projetista metálico […], fator preponderante para liberação de serviços da estrutura da Torre”, diz trecho do documento.
GIOVANNA BEMBOM/METRÓPOLES
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4 – Burburinho nas redes sociais
Com a divulgação do laudo nesta semana, o assunto ganhou as redes sociais. A preocupação é que um dos pontos turísticos mais emblemáticos de Brasília possa oferecer riscos à população local e aos turistas.
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5 – Preocupação de quem alugou o espaço
O mezanino da Torre de TV pode ser alugado para eventos privados. O valor de uma diária da Área 1, segundo tabela disponível no site da Secretaria de Turismo, responsável pela administração do espaço, custa R$ 2,9 mil. O preço para locação da Área 2 é R$ 4,9 mil por dia. Uma pessoa que locou a área para uma celebração disse ao Metrópoles que, ante as notícias de risco à estrutura, está pensando em desistir.
Veja aqui como reservar o mezanino da Torre de TV.
TRIP ADVISOR/REPRODUÇÃO
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6 – Especialista afirma que risco é real, embora pequeno
Professor de patologia de estruturas, edificações, fundações e pavimentação da Universidade de Brasília (UnB), o engenheiro Dickran Berberian diz que o maior problema da Torre de TV é a falta de manutenção.
A possibilidade de queda, em tese, é pequena. Até mesmo porque a atmosfera de Brasília não tem sais ou cloreto, que corroem a parte metálica da estrutura. É preciso uma nova avaliação e realizar manutenção a cada cinco anos, como prevê a lei, mas lógico que isso não foi feito. Essa é a mesma causa das demais quedas: falta de manutenção“
Segundo o especialista, para a Torre chegar ao ponto de desabar, os problemas teriam que estar visíveis. Procurados pelo Metrópoles, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF) e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do DF (Crea-DF) disseram que não vão se manifestar.
7 – Câmara Legislativa recolhe assinaturas para CPI
A ameaça que paira sobre a Torre de TV acendeu o sinal de alerta na Câmara Legislativa. Na quarta-feira (28/2), os distritais Celina Leão (PPS), Raimundo Ribeiro (PPS) e Wellington Luiz (MDB) pediram a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar as condições do monumento, assim como de viadutos e pontes.
“O que aconteceu no DF foi um exemplo de incompetência. Ainda mais grave é o volume de informações que chegam ao Poder Legislativo, que demonstra que esse fato não pode ser o único a ser acompanhado pela Câmara Legislativa. Os laudos da Torre são um exemplo disso. Precisamos fiscalizar, para ver como está a situação e garantir a segurança da população de Brasília”, disse Celina Leão à reportagem.
GIOVANNA BEMBOM/METRÓPOLES
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8 – GDF afirma que não há risco de desabamento
Responsável pela gestão da Torre de TV, a Secretaria Adjunta de Turismo descartou risco de queda.
Ainda segundo o secretário adjunto, “recentemente foi feito um contrato grande” para a manutenção da Torre de TV. O gestor se refere às intervenções feitas para a Copa do Mundo de 2014.
Sem dar detalhes sobre a reforma, Recena reconhece que nem todas as obras previstas foram concluídas, mas assegurou: “nada do que não foi executado compromete a estrutura da Torre”.
RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
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