Tráfico transforma residências de Brazlândia em bocas de fumo
Buracos em muros, cisternas e até brinquedos viram esconderijos utilizados por criminosos para ocultar pequenas porções de drogas
A cidade de Brazlândia é responsável por um capítulo à parte na guerra da Polícia Civil contra as quadrilhas que movimentam o esquema de tráfico de drogas no Distrito Federal. A região foi dividida por três grupos que exploram a venda de cocaína, maconha e crack. Investigações conduzidas pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia) apontam que existem dezenas de residências que foram transformadas em bocas de fumo pelos traficantes.
Ao contrário do que ocorre em Ceilândia e no Plano Piloto, onde o tráfico utiliza as ruas para escoar os produtos, os criminosos que agem nos bairros Veredas, Vila São José e Assentamento desenvolveram métodos que os resguardam durante as transações. O Metrópoles percorreu a região para verificar os pontos de venda da cidade.
Buracos em muros, cisternas e até o interior de brinquedos viraram esconderijos nas residências para o acondicionamento de pequenas porções das substâncias. Especializados em apurações envolvendo tráfico, investigadores da Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 18ª DP fecharam aproximadamente 300 pontos nos últimos 8 anos.
Tráfico transforma residências de Brazlândia em bocas de fumo
Maconha na boneca
Um dos casos emblemáticos do local envolve uma mulher que transformou a própria residência em boca de fumo e usou o quarto e brinquedos da filha para esconder as drogas. Graziely Maria da Fonseca, 25 anos, foi presa em flagrante pelos policiais armazenando grandes quantidades de maconha em casa. Conhecida como “Nininha”, ela ganhou fama traficando no bairro Assentamento.
Durante o cumprimento de busca no local, os investigadores encontraram grandes porções de maconha e cocaína, uma balança de precisão e cerca de R$ 3 mil. No quarto da criança, os policiais acharam drogas escondidas até dentro de uma boneca. As paredes da residência e os muros que cercam o lote também eram usados para acondicionar porções dos entorpecentes.
De acordo com o delegado-chefe da 18ª DP, Adval Cardoso, a intensificação das apurações sobre o tráfico na região fez com que a polícia identificasse uma rede de criminosos que fatura alto em Brazlândia. “A polícia sempre acreditou que prender usuários era esforço desperdiçado, mas mostramos que, seguindo esses passos, conseguimos chegar aos principais fornecedores”, explicou.
Grandes traficantes
No início de agosto, os investigadores prenderam um dos criminosos mais procurados do DF e que era responsável pela distribuição de boa parte das drogas que circulavam na cidade. Carlos Eduardo Gonçalves, 24 anos, foi preso após ter mandado de prisão expedido pela Justiça. De acordo com as investigações, ele trazia grandes quantidades de cocaína de Mato Grosso para revender no Distrito Federal.
A droga tinha como destino outros vendedores de menor porte e usuários que negociavam pequenas porções na casa de Carlos Eduardo. O traficante levava uma vida de ostentação. Ele comprava carros de luxo, motocicletas e imóveis e expunha os bens nas redes sociais.
Boa parte do patrimônio de Carlos foi apreendida pelos policiais durante a operação. Tijolos de maconha e cocaína ficavam escondidos em diversos pontos da casa, e maços de dinheiro nos bolsos de roupas penduradas nos armários. Cães farejadores da Divisão de Operações Especiais (DOE) ajudaram a localizar as drogas.
Flagrantes na rodoviária
O terminal rodoviário de Brazlândia é outro ponto de venda de entorpecentes que cresceu no coração da cidade. Apenas nos últimos três anos, 52 prisões em flagrante foram feitas no local. Os criminosos costumam quebrar as lâmpadas de postos que iluminam a redondeza. O objetivo é manter a escuridão e evitar que as autoridades identifiquem a negociação de drogas próxima ao comércio que existe na área.
O ponto se tornou alvo constante de operações policiais. A rodoviária é usada pelos chamados “traficantes ponta de rua”, que vendem maconha e crack em pequenas quantidades. As porções costumam ser escondidas em telhados, postes de iluminação e paredes das lojas.
Segundo o delegado, essa modalidade é a que mais incomoda a população. “Temos nos dedicado bastante para prender esses pequenos fornecedores, que trazem insegurança para quem circula pela região. Mesmo permanecendo pouco tempo presos, esses traficantes não terão descanso por parte da polícia”, garantiu.
Fonte: Metrópoles
Foto: Hugo Barreto/Metrópoles