UM SONHO QUE COMPLETA SESSENTA ANOS

Por William Baghdassarian (*)

No próximo dia vinte e um de abril, Brasília completará sessenta anos. Ao contrário da maior parte das cidades que nasceram de um agrupamento desordenado de pessoas e que acabaram se consolidando em torno de um núcleo urbano, nossa Capital foi concebida a partir do sonho de Jucelino Kubitschek, talvez o único verdadeiro estadista que o Brasil já teve.

Como todo estadista, Jucelino sonhava com um Brasil desenvolvido, próspero e mais justo com sua população. Seu lema “cinquenta anos em cinco” refletia seu desejo de modernização e desenvolvimento, materializado, por exemplo, pela instalação da indústria automobilística e de eletroeletrônicos em nosso país.

Além disso, ele entendia que o desenvolvimento nacional estaria limitado até que Estados do interior do país fossem realmente incorporados à Economia Nacional, já que naquele momento, a atividade econômica nacional estava concentrada em regiões próximas da Costa. Seria necessário, portanto, deslocar a capital para o Planalto Central para que houvesse o impulsionamento da Economia do Centro-Oeste e da parte sul da Região Norte.

O sonho de JK era contagiante. Em uma contextualização histórica, o final da década de 1950 foi um período especial para nosso país. Essa combinação de esperança, prosperidade e otimismo levou aqueles anos a serem conhecidos como “Anos Dourados”. É dessa época, por exemplo, o surgimento da Bossa Nova, movimento cultural que projetou a música brasileira no exterior.

Apesar das críticas e resistências, Jucelino não poupou esforços e inaugurou Brasília em 21 de abril de 1960. Seu diagnóstico estava correto e hoje estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás e Tocantins, além de regiões de Minas Gerais e Bahia são responsáveis por tornar o Brasil uma potência agrícola mundial e por assegurar a solidez de nossa balança comercial, estando completamente integrados à Economia Nacional.

Se por um lado, o próximo 21 de abril será uma data festiva para Brasília, por outro lado, deve-se reconhecer o complexo momento que atravessa tanto a nossa cidade quanto o nosso país. Com a eclosão da pandemia do Coronavírus (Covid-19) foi necessário estabelecer medidas de isolamento social que levaram à interrupção das atividades de setores econômicos relevantes tais como o comércio e os serviços. Ainda vivemos a expectativa com relação à severidade com que a pandemia atingirá Brasília e se nosso sistema de saúde será capaz de prover assistência médica para todos. Por outro lado, já há sinais de que a atividade econômica será severamente afetada, colocando em risco não só as empresas, mas também os empregos.

Pior do que enfrentar uma doença grave como o Coronavírus e as consequências econômicas que dela decorrerão, é a sensação de falta de rumo e de desalento. É em um momento como este que os grandes estadistas demonstram o seu valor. Como líder, Jucelino certamente buscaria substituir na população as sensações de incerteza e medo por esperança, resiliência, coragem e senso de direção, quem sabe, por meio de mais um sonho impossível.

Nunca foi tão necessário voltar a sonhar. Nossos líderes precisam compreender o momento atual e assumir o protagonismo na construção de uma visão de futuro que seja inspiradora e que nos oriente sobre como atravessar a crise que nos assola. A pandemia do Coronavírus é grave, mas outros países já passaram por problemas com gravidade semelhante e conseguiram sobreviver. Nós também sobreviveremos. Feliz aniversário Brasília.

(*) William Baghdassarian, PhD, é professor de finanças do IBMEC Brasília e PhD em Finanças pela Universidade de Reading.

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Fonte: Hulda Rode – Assessoria de Imprensa | Foto: Divulgação

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