Uma tarefa de gincana
Por Percival Puggina (*)
Durante décadas, qualquer referência ao Foro de São Paulo (FSP), suas articulações e deliberações era denunciada como teoria da conspiração. Lembram? Devaneio de gente doida, que precisava alimentar os próprios fantasmas. Agora, Fidel morreu, Raúl se aposentou, Chávez faleceu, Maduro apodreceu no pé, Lula foi preso e “descondenado”, mas não “descometeu” os crimes pelos quais foi julgado, condenado e preso.
A turma do Foro de São Paulo espicha para o Brasil olhos langorosos e gananciosos. Saudades eternas do dinheiroduto brasileiro! Ao longo dos últimos três anos, lá fora e aqui dentro, fez o possível para derrubar Bolsonaro e impedi-lo de governar com o programa vitorioso nas urnas de 2018. Sempre em nome de uma democracia que estaria periclitante. De tais assombrações não se cobram provas menos forjadas do que as etiquetas que a oposição pespegou no presidente da República.
Impossível não observar a contradição entre o resultado das urnas no pleito majoritário e o empenho em travar o governo. Os necessários freios e contrapesos constitucionais são aplicados com exclusividade ao carro-chefe do Poder Executivo, o que nos leva a essa “democracia” de falácias com que enchem a boca os que a querem sem povo. Amam a democracia à luz do dia e aos microfones; entregam-se a impuros devaneios tirânicos quando cai a noite. Preferem os repetitivos robôs do jornalismo militante ao alarido de vozes plurais nas ruas e nas redes sociais.
Por essas frestas se infiltram a desforra, o autoritarismo, o arbítrio, a censura; por aí entrou o Inquérito do Fim do Mundo, que acabou com o Estado de Direito no Brasil. Por aí vamos perdendo nossa liberdade.
De que democracia estaremos falando quando a vemos esvair-se ante verdades estatizadas, assuntos proibidos, palavras inconvenientes, censura e patrulhamento? Que democracia é essa onde STF e Senado são tão acanhados no desempenho de suas recíprocas atribuições penais? Esses poderes foram conferidos às duas instituições para proteção da sociedade, e não para que nos sintamos seguros como bebês em cadeirinha, deixando que gente grande decida o que teremos em nossas mãos.
Encontrarmos um discurso desses cavalheiros e damas em favor da liberdade individual é tarefa de gincana.
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(*) Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
*Artigo de responsabilidade do autor.
Fonte: Site puggina.org, gentilmente disponibilizou este artigo para o Brasília In Foco News
Foto: Reprodução