Voluntários criam campanha contra fome em Pirenópolis
Distanciamento social interrompeu atividades econômicas na cidade
A necessidade de manter distanciamento social por causa da pandemia da covid-19 interrompeu atividades econômicas em Pirenópolis (GO), a 150 quilômetros de Brasília, inclusive do turismo. Hospedagens, restaurantes e bares estão impedidos de funcionar há dois meses, conforme decretos municipais.
Com a suspensão desses serviços, centenas de famílias passam por dificuldades. É o caso da família da garçonete Aline Wadna, 30 anos. Ela está desempregada. “Meu patrão foi obrigado a fechar”, conta Aline, mãe de três filhos que vive com os pais já idosos. Sua mãe sofre de mal de Alzheimer. O pai trabalha em uma pedreira que está desativada em razão do novo coronavírus.
Ela calcula que tenha comida em casa, para seis pessoas, por mais três semanas. Os alimentos foram doados por comerciantes locais e moradores, e arrecadados por um grupo de voluntários que criou a Campanha Fome Zero Piri em 20 de março, com o propósito de levar às famílias mais necessitadas da região produtos para alimentação, limpeza de casa, cuidado pessoal e com animais de estimação.
Aline Wadna disse à Agência Brasil que a cesta da campanha chegou em “ótima hora”, pois não conseguiu receber o auxílio emergencial do governo federal e aguarda ajuda da assistência social local.
A Campanha Fome Zero Piri já distribuiu cerca de 320 cestas com alimentos básicos, como arroz, feijão, macarrão, molho de tomate, óleo, café, açúcar, farinha de trigo, fubá, farinha de mandioca e bolacha; e um kit “xô corona”, com sardinha, maçã, cebola, alho, açafrão, pimenta do reino, leite (de produtor local) e ovos. Também foram distribuídos material de limpeza e higiene pessoal, e até ração para os pets.
Capacitação
Além das pessoas atendidas, 80 famílias se inscreveram para receber os produtos básicos. A coordenadora da campanha, Reila Miranda disse que a campanha também planeja capacitar as pessoas para terem outras formas de sustento e formarem cooperativa multiprofissional de trabalho. “Precisamos agora dar o peixe, mas também queremos dar a vara de pescar”, comenta a coordenadora.
A campanha fez parceria com a Comunidade Educacional de Pirenópolis (Coepi), uma associação cultural e ambiental, para ensinar sobre o manejo de solo e cultivo de alimentos em hortas domiciliares e comunitárias. Empresários rurais com terras ao redor de Pirenópolis e pessoas da comunidade ofereceram glebas e pequenos terrenos urbanos para plantação por trabalhadores que venham a ser qualificados.
Pirenópolis foi fundada no século 18 por bandeirantes e tombada pelo patrimônio histórico em 1989. O município atrai principalmente turistas de Brasília e de Goiânia. Em dias sem pandemia, quem vai à cidade pode passear em reservas naturais, tomar banhos de cachoeira, ver casarões e fazer visitas a fazendas tradicionais cercadas pela Serra dos Pirineus.
De acordo com estimativa do IBGE, Pirenópolis tem 25 mil habitantes. Em 2017, o salário médio mensal na cidade era de 1.7 salários mínimos. Naquele ano, um terço dos domicílios (32,8%) tinha renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa. A mesma proporção de residências (33.9%) contava com esgotamento sanitário adequado.
Até o fechamento desta reportagem, Pirenópolis não apresentava caso confirmado de covid-19. Segundo a Secretaria de Estado de Goiás, foram notificados 37 casos na cidade. Desses, 29 já haviam sido descartados e oito ainda estavam sob análise clínica como “suspeitos”.