A ficha caiu? Desânimo de Lula já preocupa petistas e militância
Para especialistas, tristeza é normal em presos recém-encarcerados. Porém, oposição vê “depressão” do petista como uma estratégia da defesa
Preso desde o último sábado (7/4) na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba (PR), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está cabisbaixo, desanimado e sem falar praticamente com ninguém. Fundador do Partido dos Trabalhadores e comandante principal da legenda, Lula tem evitado conversar até mesmo com os quatro agentes que se revezam na segurança da porta da sala, transformada em cela, onde ele está detido há uma semana.
Acostumado a estar rodeado por grandes multidões, a ver seus discursos imponentes serem ouvidos por milhares de pessoas e a ter uma agenda recheada de compromissões políticos, o silêncio e o ócio têm sido os grandes inimigos do petista nesses primeiros momentos de adaptação ao cárcere. Para as principais lideranças do partido ouvidas pelo Metrópoles, a ficha do ex-presidente da República está caindo e ele parece se recusar a continuar lutando contra o fato de que está detido, sem data para sair da cadeia.
Até mesmo a demora para o primeiro banho de sol não teria incomodado Lula. A presidente do Conselho da Comunidade a Região Metropolitana de Curitiba, órgão da execução penal da capital paranaense, Isabel Mendes, conta que o político não solicitou o direito. Tanto que Lula só viu a luz do dia, após estar sob a guarda da Polícia Federal, nesta sexta-feira (13). Ele também ainda não pediu para realizar seus exercícios físicos, pois estaria “impaciente e indisposto” para tais atividades rotineiras.
Líder do PT no senado, Lindbergh Farias (RJ) é um dos integrantes do partido temerosos de que a falta de ocupação do político possa se transformar em uma depressão. Até por isso, apoiadores do ex-presidente acampados próximo à PF de Curitiba desde a detenção de Lula resolveram, todos os dias, dar “bom dia” e “boa noite” ao ex-presidente. Essa seria a forma encontrada por eles de “prevenir” uma possível doença.
Segundo fontes ligadas à Polícia Federal, até agora, o único momento no qual o petista sorriu foi ao saber da presença de mais de 500 apoiadores nas cercanias da sede regional da PF e que eles não pretendem sair da capital paranaense até o político estar livre. Nesta quinta-feira (13/4), quando recebeu pela primeira vez a visita dos filhos Fabio Luiz (o Lulinha), Luiz Cláudio e Lurian, além do neto Thiago, o ex-presidente teria ficado constrangido e evitado sair da cela, apesar de contar com permissão para isso.
Histórico de doenças
O discurso oficial do PT, e da presidente da legenda, a senadora Gleisi Hoffmann, é que Lula é “um homem forte” e não se abalará por motivo algum. No entanto, a idade do ex-presidente – ele completará 73 anos em outubro – e o histórico de problemas graves de saúde preocupa os mais próximos.
Já para alguns parlamentares da oposição, a “depressão” de Lula não passa de uma artimanha da defesa para “tentar tirar o ex-presidente mais cedo da cadeia”. “A estratégia dele, até agora, foi mesmo abusar de recursos para criar histórias. Para mim, não é depressão, é dor na consciência mesmo”, disparou o senador Magno Malta (PR-ES). “Tomara que seja dor de arrependimento pelo que ele fez com a nação”, completou. A opinião do parlamentar foi compartilhada ainda por deputados e senadores do DEM, MDB e PSDB.
Para advogados criminalistas ouvidos pela reportagem, as duas coisas podem estar acontecendo. Segundo os especialistas, é normal que as defesas se apropriem de estratégias e aumentem o grau de doenças pré-existentes na tentativa de amenizar penas. No entanto, pessoas que experimentaram de perto o poder teriam mais dificuldades para se acostumar com a prisão.
“O sistema criminal é cruel para o rico, para o pobre, para o político, para o não político. O baque de estar preso é muito forte, principalmente nos primeiros 15 dias. Uma pessoa que tem a liberdade tolhida não sabe direito como se movimentar, como acordar, como dormir. Normalmente, ela se sente meio para baixo mesmo”, afirmou o criminalista Antônio Rodrigo Machado. “Ninguém fica igual depois de uma noite na cadeia. Mas as pessoas costumam se adaptar logo à nova rotina, se fortalecer”, concluiu.
Essa é apenas a primeira semana de cumprimento de uma longa sentença. Pelo caso do triplex do Guarujá (SP), Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de reclusão, em regime inicialmente fechado, sob acusação de ter cometido dois crimes: lavagem de dinheiro e corrupção.
Fonte: Metrópoles
Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles